E SE DEUS EXISTIR?

E SE DEUS EXISTIR?

Por *RENATO RIELLA

Há coisas que só acontecem comigo. E geram ótimas histórias. Se você não tiver saco de ler o textão, leia pelo menos o último parágrafo, que é imperdível. E vamos lá…

Um amigo meu de décadas, com 66 anos, está internado com problema gravíssimo no pâncreas. Toma morfina e muitas drogas pesadas, que lhe dão alucinações.

É um grande jornalista, ateu declarado, até equilibrado, mas surtou no quarto. Desacatou a mulher e familiares, tocou alarme, convocou batalhão de enfermeiras. Quase foi amarrado.

No auge, pediu aos berros para chamarem o Ministério Público. E completou: “Se não conseguirem o Ministério Público, chamem o Riella”.
Pronto! Virei última instância.

A coitada da esposa, no stress, me ligou pedindo socorro. Assim, passei a tarde de ontem no hospital.
Incrível, mas o cara está melhor, se fortalecendo para fazer uma cirurgia dificílima – os médicos não perdem a esperança.

Nos últimos anos, nós dois almoçamos dezenas de vezes no restaurante Flor de Lótus. Ele ficava perplexo com a minha fé persistente em Deus, diante de tantas situações difíceis e tristes que tive (e tenho) na vida.

Nas conversas, eu passava sempre o meu lema: “Deus sabe o que faz”. Anos depois, sempre concluo que Ele sabe mesmo.

Na verdade, sou inabalável – e nem tenho medo de morrer. A propósito, deve ser o DNA da família. Contei para meu amigo o caso incrível da minha neta Cecilinha (10).

Ela teve grave infecção de bexiga. Urinava de 15 em 15 minutos, botando sangue e sentindo muitas dores – mas mantinha-se forte e firme, até risonha.

Tomou agulhadas, ficou horas internada e passou por exames de tubo. No final, uma médica jovem disse que o tratamento podia ser feito em casa, etc.

Impassível e lindinha, equilibrada numa cadeira, Cecilinha perguntou:
-Tem chance de morrer?

A médica, perdendo a chance de se emocionar, respondeu apenas:
-Não é bem o caso.

Sou igual a Cecilinha, na racionalidade. Meu amigo doente confirmou que me chamou, durante o surto, por me ver sempre controlado, nas mais difíceis situações (fizemos o Caso Mário Eugênio juntos).

Ele disse que leu estudos mostrando um fenômeno psicológico chamado de “stress de cuidador”, que atinge os parentes dos doentes. Mas a mim, não! Realmente, não. Imagine se vou me abalar…

Fiquei agradecido pela observação – e discuti com ele a questão da fé. No auge da doença, o ateísmo do velho jornalista muito amigo se reduziu. Usei, então, de didática.

-Pense bem. A gente gostaria de saber que existe água na Lua. Seria ótimo ver de perto um disco-voador. A mesma coisa digo sobre Deus. Já pensou, se ele existir mesmo!

E completei: “Conceda a Deus o benefício da dúvida, pelo menos”.

O carinha amigo, quase desenganado, deu a maior risada. E comentou: “Esta é boa…vou dar o benefício da dúvida. Quem sabe, né!”

 

*Renato Riella é Jornalista

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