EM TERRA ESTRANHA, MÉTODOS ESTRANHOS.

*Paulo Castelo Branco, convidado especial do SOS Brasília

O vazamento de conversas entre o ministro Sérgio Moro, à época do exercício da magistratura, e membros do Ministério Público nas operações da “Lava Jato”, caiu como uma bomba nuclear nos meios políticos e jurídico.

Sorte para Neymar e outros mais que habitam o mundo maravilhoso e livre das redes sociais e dos hackers, que municiam a mídia com segredos inimagináveis dos governantes, dos famosos do esporte e da arte, além de qualquer ser humano que acredite em criptografia ou outras proteções tecnológicas.

Quanto às conversas transmitidas por diversos aplicativos, é bom saber que as nuvens onde ficam depositadas as informações são como as verdadeiras que flutuam no espaço e, vez em quando, ficam negras e desabam em chuva de documentos ultrassecretos, envolvendo até países que guardam suas memórias em bunkers protegidos por sistemas pretensamente invioláveis.

Hoje, olhos e ouvidos invisíveis estão gravando e atentos a tudo que ocorre, assim na Terra como no Céu, como disse o Senhor.

O então juiz Sérgio Moro e seus colegas procuradores evidentemente mantinham contato em busca de fórmulas que pudessem ser uteis para atingir membros das quadrilhas que roubaram bilhões de reais do bolso do cidadão brasileiro. O método é,  agora, usado para encontrar na  lei as  mesmas lacunas identificadas pelos profissionais do Direito em defesa de seus clientes para livrá-los da prisão.

Essa prática vem sendo utilizada há muitos anos e teve início na década de 1980, com a criação dos “Juízes para a Democracia”; ao longo dos anos, foram adotadas por membros dos Ministério Público, advogados, jornalistas investigativos e investigadores policiais se tornando um grupo coeso. Como não conseguiam romper a tradição de impunidade de poderosos, passaram a trocar informações, inclusive abastecendo a mídia.

Com o apoio da população, cansada de ser espoliada, conseguiram processar e condenar personalidades que imaginavam estar fora de qualquer ação que os levasse à prisão.

No âmago da celeuma da divulgação das conversas, ainda não devidamente examinadas, está o medo que persiste entre envolvidos em crimes; e, tal qual os eficientes traficantes e quadrilhas especializadas em várias áreas, são  surpreendidos com delações de seus próprios parceiros, ou pegos em flagrante com informações fornecidas por policiais infiltrados.

A divulgação das conversas entre o ministro Moro e procuradores poderá atingir suas brilhantes carreiras, mas, de toda forma, o cidadão não os esquecerá em virtude dos importantes serviços que prestaram à nação brasileira.  

Brasília, 10 de junho de 2019.

*Paulo Castelo Branco, advogado, professor, escritor e ex-secretário de Segurança Publica do Governo do Distrito Federal.

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