‘Deixou serviço sem explicações’, diz igreja sobre catequista suspeito de abusar de crianças no DF

osé Antônio Silva trabalhou como voluntário na Paróquia Divino Espírito Santo por 2 anos. Pelo menos 17 vítimas procuraram a polícia; homem está foragido.

Por G1 DF

12/07/2019 11h46  Atualizado há 3 horas


José Antônio, é professor de catequese de uma paróquia e professor de uma escolinha de futebol, no Guará — Foto: Polícia Civil do DF/Reprodução

José Antônio, é professor de catequese de uma paróquia e professor de uma escolinha de futebol, no Guará — Foto: Polícia Civil do DF/Reprodução

A Paróquia Divino Espírito Santo, no Guará II, enviou um comunicado à imprensa nesta semana afirmando que o catequista José Antônio Silva, de 47 anos, deixou o serviço no início deste ano “sem explicações”. Ele é suspeito de cometer abusos sexuais contra crianças entre 4 e 10 anos de idade no Distrito Federal.

Em nota, o padre Mário Alves Bandeira – pároco da igreja – disse que o suspeito iniciou o serviço voluntário de catequista em 2017. Segundo o padre, antes de assumir a função, José Antônio passou pelo período de formação, em que foi avaliado nas dimensões “intelectual, humanas e afetivas, pastoral e da vida comunitária”.

No texto, o padre aponta que a missão de “educador das coisas de Deus” poderia servir como uma espécie de “escudo” às suspeitas levantadas contra José Antônio. O pároco, no entanto, afastou a possibilidade do catequista ter ficado sozinho com as crianças dentro da igreja, porque “havia outros voluntários catequistas presentes” (veja íntegra abaixo).

De acordo com Mário Alves Bandeira, ao longo desses dois anos, “não houve qualquer acusação, desconfiança ou insinuação envolvendo o suspeito, seja por parte dos colegas, da coordenação de catequese Paróquia Divino Espírito Santo, das próprias crianças e de seus familiares”.

No comunicado, o padre disse, ainda, que a igreja tem colaborado com o trabalho da polícia: “Como tem feito desde o início das investigações, continuará à disposição das autoridades no que estiver ao seu alcance”.

Abusos

O delegado responsável pela investigação, Douglas Fernandes de Moura, afirmou ao G1 que o professor de catequese “usava do dom da palavra para praticar abusos”. A reportagem não localizou a defesa de José Antônio Silva.

“Ele utilizava do dom da palavra e do jeito brincalhão de ser, de uma pessoa que é bem quista por todos. Então ele usava esses subterfúgios para praticar esses atos.”

Até o momento, 17 vítimas procuraram a 4ª Delegacia de Polícia (Guará) para denunciar abusos. A Justiça do DF expediu mandado de prisão preventiva contra o suspeito que, até a última atualização desta reportagem, não havia sido encontrado.

Fachada da 4ª Delegacia de Polícia, no Guará II — Foto: Marília Marques/G1

Fachada da 4ª Delegacia de Polícia, no Guará II — Foto: Marília Marques/G1

Quem tiver informações sobre o homem, pode enviá-las pelo telefone 197, ou pelo e-mail: [email protected].

20 anos de crimes

Segundo a polícia, além do trabalho na Paróquia Divino Espírito Santo, o suspeito também era professor de uma escolinha de futebol. Os abusos teriam começado a ocorrer há, pelo menos, 20 anos, já que a vítima mais velha a denunciar o crime tem 30 anos.

A Polícia Civil indiciou José Antônio Silva por 16 estupros de vulnerável. As investigações indicam que a maioria das vítimas eram meninos, entre eles parentes do professor. Uma menina também foi ouvida pelos investigadores.

Nota da Paróquia Divino Espírito Santo

“Sobre o caso envolvendo o senhor José Antônio Silva, procurado pela Polícia Civil do Distrito Federal sob a suspeita dos crimes de aliciamento e abuso de menores, sentimo-nos tão surpresos quanto os familiares mais próximos, conforme a mídia tem noticiado.

Constatou-se, pelas investigações da Polícia, que a conduta do suspeito era de longa data (20 anos). Seu serviço como voluntário na Paróquia Divino Espírito Santo, no Guará II, exercendo a missão de catequista, tinha dois anos (2017-2018).

Antes de se tornar catequista, passou pelo período de formação, como se faz com todos os voluntários e voluntárias, período no qual se passa a conhecer o candidato, não apenas nas dimensões intelectual e espiritual, mas também nas dimensões humano afetiva, pastoral e da vida comunitária.

No início de 2019 deixou o serviço, sem explicações. Geralmente as aulas de catequese são ministradas por dois catequistas em cada sala. Jamais, nestes dois anos de serviço voluntário do acusado, houve qualquer desconfiança, insinuação ou acusação, seja da parte dos colegas catequistas, da coordenação de catequese da Paróquia ou das crianças e familiares das mesmas.

Respeitamos o serviço valioso dos profissionais da comunicação em seu trabalho de noticiar os fatos, formar opiniões, auxiliando na busca do suspeito, mas repudiamos algumas notícias que desejam aproveitar a ‘dimensão religiosa’ para fortalecer o fato ou criar um sensacionalismo desnecessário.

Concordamos que a missão de ‘educador das coisas de Deus’ poderia servir como um ‘escudo’ aos crimes, gerando confiança nas famílias e às próprias crianças, mas isso não significa afirmar que os aliciamentos ocorriam dentro das salas de aula, mesmo porque haviam outros voluntários catequistas presentes.

A Paróquia Divino Espírito Santo, como tem feito desde o início das investigações, continuará à disposição das autoridades no que estiver ao seu alcance.

Que o Divino Espírito Santo ilumine a todos, inclusive o próprio senhor José Antônio Silva, para que possa apresentar-se e responder às acusações, fazendo uso de seu direito de defesa. Aos profissionais da mídia, que possam continuar sua missão com imparcialidade.

Aos voluntários catequistas de todas as paróquias e outras igrejas, que este caso sirva para fortalecer esta missão tão fundamental e bonita, demonstrando a grande responsabilidade no serviço.

Aos pais das crianças da Catequese, que continuem atentas para quaisquer mudanças de comportamento de seus filhos, e que continuem dialogando e interagindo sobre tudo o que eles fazem durante o dia.

Procurem conhecer, também, os catequistas e educadores, participando das reuniões e dos momentos de confraternização, por exemplo. Enfim, a nós, ‘administradores do sagrado’, a intensificação no zelo e na formação e preparação dos educadores da fé, catequistas e animadores pastorais.”

Atenciosamente, Pe. Mário Alves Bandeira

Fonte: G1

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