‘Falaram que meu filho estava morto, mas ele nasceu vivo’, diz casal que denuncia negligência em hospital público do DF

Polícia Civil investiga pelo menos 11 denúncias na unidade da saúde. Caso foi revelado pelo G1.

Por Afonso Ferreira, G1 DF

Phelipe Araujo é marido de uma das vítimas que que denunciou suposta negligência em hospital público do DF — Foto: Arquivo pessoal

Phelipe Araujo é marido de uma das vítimas que que denunciou suposta negligência em hospital público do DF — Foto: Arquivo pessoal

A terça-feira (16) marcou um mês da morte do filho do mecânico Phelipe Araújo Gomes e da companheira dele, de 16 anos. A criança nasceu e morreu no mesmo dia, no Hospital Regional de Samambaia (HRSam), e o casal é um dos que acusa médicos da unidade de negligência.

“Antes do parto, uma médica disse que meu filho já estava morto. Mas ele nasceu vivo”, conta Phelipe.

O casal afirma que procurou o hospital em 15 de junho, no sexto mês de gestação, depois que a mulher sentiu dores. Segundo o mecânico, uma médica tocou na barriga da jovem e disse que o filho do casal já estava morto.

Bebê nasceu vivo

A especialista então encaminhou a jovem para o procedimento de curetagem – limpeza do útero – e a medicou. No entanto, segundo Phelipe, logo após tomar o remédio, a esposa começou a sentir fortes dores e entrou em trabalho de parto.

O pai afirma que, diferente do que a médica tinha dito, o filho nasceu vivo. No entanto, a criança morreu duas horas depois.

A família ainda aguarda o laudo da necrópsia que vai dizer a causa da morte do recém-nascido. Porém, o casal acredita que houve negligência médica.

“Fiquei revoltado com o hospital. Já estava tudo planejado, compramos varias coisinhas para o bebê”, afirma Phelipe.

Caso de polícia

A denúncia do casal é uma das 11 investigadas pela 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia). Desde setembro do ano passado, uma série de pacientes procurou a unidade para relatar supostos casos de negligência médica e violência obstétrica no HRSam.

Guilherme Sousa Melo, delegado da 26ª DP — Foto: Afonso Ferreira/G1

Guilherme Sousa Melo, delegado da 26ª DP — Foto: Afonso Ferreira/G1

caso foi revelado pelo G1 nessa segunda-feira (15). O Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) e o Conselho Regional de Medicina do DF (CRM-DF) também analisam as denúncias. Pelo menos oito médicos são investigados.

Segundo o delegado Guilherme Sousa Melo, responsável pelas apurações, os registros abrangem vários tipos de conduta inadequada, desde gazes esquecidas dentro de pacientes até curetagens mal feitas.

Em um dos casos, uma paciente relatou que um médico quebrou a clavícula de um recém-nascido durante o parto. Apesar do ferimento, a criança sobreviveu. Uma imagem de raio-x, à qual o G1 teve acesso, mostra o osso da criança fraturado (veja abaixo).

Foto do Raio-x do recém-nascido que teve a clavícula quebrada no DF — Foto: Arquivo pessoal

Foto do Raio-x do recém-nascido que teve a clavícula quebrada no DF — Foto: Arquivo pessoal

A manicure Bruna Lima Santos, de 22 anos, também contou à reportagem que o médico responsável pelo procedimento foi “bruto” desde o momento da internação.

“Se eu fizesse qualquer barulho, ele mandava eu calar a boca. Dizia que na hora de fazer era bom, então agora eu tinha que aguentar”, disse a jovem.

Em um outro caso, uma paciente teve o útero perfurado após um procedimento de curetagem. A mulher procurou uma clínica particular depois de passar pelo HRSam. No local, foi aconselhada a retirar o útero, por conta dos danos causados pelo procedimento mal feito.

Governador comenta

Nesta quarta-feira (17), o governador Ibaneis Rocha (MDB) comentou as denúncias. O chefe do Executivo local afirmou que, caso as acusações sejam confirmadas, os suspeitos serão punidos.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha — Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha — Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

“Nós já determinamos que seja feito acompanhamento. Vamos fornecer todos os dados para a polícia, para o Ministério Público e, se houver realmente irregularidades, nós vamos punir os responsáveis”, afirmou o governador.

O que diz a Secretaria de Saúde

Questionada pelo G1, a direção do Hospital Regional de Samambaia informou que “recebeu denúncias envolvendo servidores da unidade. Todas as providências estão sendo tomadas pela direção e pela Superintendência da Região de Saúde Sudoeste”.

De acordo com a Secretaria de Saúde, um processo sigiloso foi aberto para apurar os casos. A pasta afirma que “não irá se manifestar até a apuração de todos os fatos”.

Fonte: G1/DF

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