Lino Tavares: Roberto Leal, uma luz que se apaga na canção luso-brasileira

Roberto Leal — Foto: Divulgação/Blog oficial/vasco.com.br

Por Lino Tavares, especial para SOS BRASILIA


 O Brasil perdeu sua maior estrela luso-brasileira com a morte do cantor Roberto Leal, ocorrida domingo, 15/09/2019. O cantor iniciou sua trajetória artística no Brasil, ainda menino, cantando no programa Discoteca do Chacrinha,em 1971, onde foi muito aplaudido e acabou se tornando uma espécie de cônsul da cultura portuguesa em nosso país. Fados e canções românticas recheavam o conteúdo de seu vasto repertório, iniciado com a trepidante “Arrebita”, que se tornou marca registrada de seu cântico  essencialmente coreográfico.    Sendo um artista completo, revelou seu lado de ator estrelando o filme”Milagre – O Poder da Fé”, ao lado de Chacrinha, Elke Maravilha e Lolita Rodrigues, produzido em 1978, abordando sua história de vida, na qual se inclui sua vinda para o Brasil onde chegou com os pais e nove irmãos, em 1962, passando a trabalhar em São Paulo, como sapateiro e comerciante de doces. A par do gênero romântico-popular, seu crescimento como intérprete teve como ponto forte a mistura de ritmos lusitanos e brasileiros, tendo incluído em suas gravações estilos tipicamente regionalistas como o forró. Como compositor, deixa um legado de inúmeras canções, pois quase todo seu repertório é constituído de faixas de sua autoria.    Destacou-se também como apresentador em programas na Rádio Capital, na TV Gazeta e Rede Vida, em São Paulo, bem como no canal português TVI. Neste século, promoveu importantes lançamentos como “Canto da Terra”, em 2007, e “Raic/Raízes”, em 2009, em cujos discos gravou músicas em Mirandês, para divulgar a segunda língua oficial de Portugal. No mercado fonográfico, Roberto Leal figurou sempre na vanguarda das grandes vendagens de discos, alcançado a marca de 17 milhões de cópias vendidas, em que figuram cerca de trezentas canções gravadas. Em 2014, marcou presença na novela “Chiquititas” e no lançamento de um CD intitulado “Obrigado Brasil”. contendo sambas de Jorge Aragão e Arlindo Cruz. Fez duetos com Jair Rodrigues, Alcione, Jairzinho e Luciana Mello.    Dividia seu cotidiano artístico entre o Brasil e Portugal, levando a cultura portuguesa aos países da Europa e América Latina. O sucesso de Roberto Leal no Brasil foi sempre motivo de muito orgulho em Portugal, que o tinha como um dos raros representantes da cultura musical portuguesa em nosso país. Tive certeza disso ouvindo referências nesse sentido, durante minha estada em Lisboa, em meados do ano passado.  Nas entrevistas que fiz com as cantoras portuguesas Dulce Pontes e Ana Malhoa, ouvi queixas de que os empresários musicais brasileiros não valorizam a música de Portugal como deveriam, deixando de promover shows no Brasil com artistas portugueses,  ao contrário daquele país que prestigia a nossa música com intensidade, abrindo espaços para espetáculos musicais de todos os gêneros brasileiros, em suas principais casas de espetáculos. 

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