Shopping do DF que pintou funcionárias de preto para divulgar Black Friday é processado pelo Ministério Público

Foto: Reprodução/Facebook

MP pede pagamento de indenizações. Além do rosto pintado com tinta preta, funcionárias usavam perucas de cabelo crespo; shopping nega racismo.

Mulheres são pintadas com tinta preta em campanha da Black Friday de shopping do DF  — Foto: Reprodução/Facebook
Mulheres são pintadas com tinta preta em campanha da Black Friday de shopping do DF — Foto: Reprodução/Facebook

O Ministério Público do Trabalho no Distrito Federal (MPT-DF) ajuizou ação civil pública contra o Águas Claras Shopping, no Distrito Federal. O motivo é uma campanha realizada pelo estabelecimento em novembro do ano passado. À ocasião, o shopping pintou funcionárias com tinta preta, para divulgar promoções da Black Friday.

Na ação, o MPT pede que o centro comercial seja condenado a pagar indenização de R$ 100 mil, por danos morais coletivos, além de R$ 10 mil a cada funcionária que teve o corpo pintado.

O Ministério Público quer ainda que o shopping seja proibido de usar, em campanhas publicitárias futuras, práticas que possam configurar racismo, preconceito de origem, raça, sexo cor, idade, pensamento, crença religiosa, entre outros. O processo corre no Tribunal Regional do Trabalho do DF (TRT10).

Acionado pelo G1,o shopping informou que “o que tinha a falar sobre isso, já está manifestado nos autos [do processo]”.

Relembre o caso

Mulheres são pintadas com tinta preta em campanha da Black Friday de shopping do DF
Mulheres são pintadas com tinta preta em campanha da Black Friday de shopping do DF

O caso ocorreu em 22 de novembro do ano passado. À ocasião, as funcionárias exibiam faixas de divulgação da ação do shopping em um semáforo de Águas Claras. Elas tinham o rosto pintado com tinta preta e usavam perucas de cabelo crespo.

A campanha causou polêmica e foi criticada por utilizar a prática de “blackface”, considerada racista por historiadores, pesquisadores e ativistas do movimento negro.

Segundo eles, essa pintura remete ao costume de pintar atores brancos de preto, no século 19, já que os negros não podiam atuar no teatro e no cinema.

Com as críticas, a empresa encerrou a ação e divulgou nota pedindo desculpas pelo ocorrido. Confira o posicionamento publicado à época:

“A partir do momento que percebemos que a ideia transmitida foi contrária da planejada, a cancelamos imediatamente.

A todos que se sentiram ofendidos com a ação, pedimos desculpas e reiteramos que em nenhum momento a ideia teve cunho ofensivo.”

Repercussão

Fachada do Ministério Público do Trabalho no DF (MPT-DF) — Foto: Messias Carvalho/MPT-10
Fachada do Ministério Público do Trabalho no DF (MPT-DF) — Foto: Messias Carvalho/MPT-10

Após a repercussão da campanha, o MPT-DF instaurou procedimento para investigar a conduta do shopping. Segundo o órgão, ao ser convocado para esclarecer o caso, o centro comercial disse que a ação não tinha conotação racista, mas reconheceu o impacto negativo.

De acordo com o Ministério Público, inicialmente o shopping se mostrou disposto a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no qual se comprometia a não repetir a conduta e pagaria uma indenização, sem a necessidade de ação judicial. No entanto, meses depois, a empresa teria mostrado “desinteresse” em assinar o acordo.

Por isso, o procurador Paulo Neto acionou a Justiça. Segundo ele, a prática de “blackface” não pode ser considerada humor, mas sim forma de opressão.

“Uma ferramenta que ridiculariza o negro por meio de uma caricatura exagerada é aviltante à dignidade humana. Inclusive esta prática não é mais aceita atualmente nem como recurso cênico, que dirá como modo de chamar atenção para a venda de produtos de um shopping”, afirma.

Ainda de acordo com o procurador, as funcionárias foram alvo de comentários maldosos e piadas durante a ação.

“O fato mais gravoso é de uma trabalhadora, que mesmo sendo negra, teve que se pintar e usar a peruca como as demais, levando ela a ser o alvo maior das agressões verbais e piadas.”

Fonte: Pedro Alves, G1 DF

COMPARTILHE AGORA:

Leia também