Trabalhador branco ganha por hora 68% mais que pretos e pardos, mostra IBGE

DIVULGAÇÃO

Desigualdade também ocorre nos cargos de chefia. Somente 29,9% dos cargos gerenciais são exercidos por pretos ou pardos.

Os trabalhadores pretos e pardos recebem, em média, R$ 10,1 por hora trabalhada no Brasil. Entre os brancos, esse valor é de R$ 17 por hora, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes a 2018. Em média, assim, brancos recebem por hora 68% mais que pretos e pardos. Ou, na comparação inversa, pretos e pardos recebem 59% do que recebem os brancos.

Trabalhador negro recebe pouco mais da metade do salário do trabalhador branco, diz IBGE
Trabalhador negro recebe pouco mais da metade do salário do trabalhador branco, diz IBGE

Essa diferença é um pouco menor entre os mais escolarizados: negros com pelo menos o ensino superior ganham R$ 22,7 por hora de trabalho, 69% do rendimento-hora de um trabalhador branco, de R$ 32,8 em média. A menor diferença aparece entre os trabalhadores com nível fundamental completo ou médio incompleto: nessa faixa, negros e pardos recebem 82% do rendimento por hora dos brancos.

“Esse indicador nos aponta para a questão de que a desigualdade no mercado de trabalho não acaba com a igualdade na formação educacional”, enfatizou Claudio Crespo, coordenador de Populações e Indicadores Sociais do IBGE.

Rendimento médio por hora de trabalho — Foto: Economia G1

Cargos de chefia

A desigualdade também ocorre nos cargos de chefia. Somente 29,9% dos cargos gerenciais são exercidos por pretos ou pardos. Negros e pardos representavam 55,8% dos 207 milhões de brasileiros em 2018.

“A divisão em cinco classes de rendimento do trabalho principal evidencia que, quanto mais alto o rendimento, menor é a ocorrência de pessoas pretas ou pardas ocupadas em cargos gerenciais. Na classe de renda mais elevada, somente 11,9% das pessoas ocupadas com cargos gerenciais eram pretas ou pardas e 85,9%, brancas. Por outro lado, nos cargos gerenciais de renda mais baixa, havia 45,3% de pretos ou pardos e 53,2% de brancos”, aponta o instituto.

“Quanto maior é o cargo e mais alto o salário, menor é a presença de pretos e pardos”, ressaltou Crespo, do IBGE.

Participação de pretos e pardos em cargos de chefia

Fonte: IBGE

Desocupação e informalidade

O levantamento do IBGE mostra ainda que, em 2018, pretos e pardos representavam 54,9% da força de trabalho no país (57,7 milhões de pessoas) e os brancos, 43,9% (46,1 milhões). Apesar disso, a população preta ou parda representava 64,2% dos desocupados e 66,1% dos subutilizados.

Além disso, a taxa de informalidade entre os negros é muito maior que entre os brancos. Quase metade dos negros (47,3%) trabalham sem carteira assinada ou sem CNPJ. Esse percentual é de 34,6% entre os brancos.

A taxa composta de subutilização da população preta e parda (29%) era maior do que a dos brancos (18,8%). A desigualdade persistia mesmo quando considerado o recorte por nível de instrução. Entre os que tinham pelo menos o nível superior, essa taxa era de 15% para os pretos ou pardos e de 11,5% para os brancos e entre os sem instrução ou com fundamental incompleto: 32,9% e 22,4%, respectivamente.

Rendimento e moradia

Reflexo disso é o rendimento bem menor dos negros no final do mês, na comparação com o brancos, já que o trabalho informal paga menos que o formal. Em média, o trabalhador negro recebe R$ 1.608 por mês – apenas 57,5% da média do rendimento do trabalhador branco, de R$ 2.796 mensais.

Rendimento mensal médio — Foto: Economia G1
Rendimento mensal médio — Foto: Economia G1

A maior diferença ocorre no grupo de mulheres negras, que recebem 44,4% do rendimento dos homens brancos no final do mês.

Os dados do IBGE também revelam a desigualdade nas condições de moradia. Uma parcela de 44,5% dos negros moram em casas com ausência de pelo menos um serviço de saneamento básico, como coleta de lixo, abastecimento de água e esgoto. Essa proporção é de 27,9% entre brancos.

Quase 45% dos pretos e pardos não possui máquina de lavar, contra 21% dos brancos. “Indício de que a população preta ou parda, em especial as mulheres, tem maior carga de trabalho doméstico, como a lavagem de roupa, dentre outros trabalhos não remunerados”, diz o estudo.

Distribuição de rendimentos

Ao dividir a população segundo classes de rendimento, a pesquisa mostrou que entre os 10% com os maiores rendimentos, apenas 27,7% eram pretos ou pardos. Em contrapartida, este grupo representava 75,2% entre os 10% da população com os menores rendimentos. Além disso, a pesquisa aponta que o rendimento médio domiciliar per capita da população branca era de R$ 1.846, quase o dobro que o de pretos e pardos, que era de R$ 934.

Considerando as linhas de pobreza estabelecidas pelo Banco Mundial, a pesquisa aponta que a proporção de pretos e pardos foi maior que o dobro da população branca. Entre os pretos e pardos, 32,9% recebiam menos de R$ 420 por mês (US$ 5,50 por dia), que é a linha de pobreza, enquanto entre os brancos essa proporção era de 15,4%.

Já abaixo da linha da pobreza (R$ 145 por mês ou US$ 1,90 por dia) estavam 3,6% da população branca e 8,8% da preta e parda.

“Seja na extrema pobreza ou na linha de pobreza, a presença de pretos e pardos é mais significativa que a da população branca. Então, a vulnerabilidade dessa população também está expressa nessa análise”, destacou Crespo.

Fonte: GloboNews e G1

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