Ídolo do Flamengo: de menino das chuteiras amarelas a jogador mais caro do Brasil: a história de Giorgian De Arrascaeta

Nascido em cidade de 2,5 mil habitantes à beira do Rio Uruguai, jogador do Flamengo tem forte ligação com os cavalos e com sua origem

Por Edson Viana e Gustavo Rotstein — Nuevo Berlín, Uruguai

Conheça a história de Arrascaeta, a contratação mais cara da história do futebol brasileiro

Conheça a história de Arrascaeta, a contratação mais cara da história do futebol brasileiro

Com cerca de 200 milhões de habitantes, o Brasil é considerado uma fonte inesgotável de jogadores de futebol. Mas foi de Nuevo Berlín, cidade de 2,5 mil habitantes no interior do Uruguai, que saiu o mais caro deles. Maior transferência da história do futebol brasileiro, Giorgian De Arrascaeta é um daqueles casos quase impossíveis. Mas com a dedicação dos pais e ajuda do seu povoado ele conseguiu deixar a timidez fora de campo para ser o protagonista do mercado de transferências em 2019. O Flamengo vai pagar quase R$ 90 milhões até o fim de 2020 pelo meio-campo de 24 anos.

De Arrascaeta, ídolo do Flamengo

A competitividade está no sangue. Alfredo De Arrascaeta foi jóquei e rodava por todo o Uruguai. Por isso, não teve dúvidas quando nasceu o filho. Ele se chamaria Giorgian, um cavalo muito importante em seus tempos de corrida. O menino pensou em seguir a carreira, mas desistiu depois de ver o pai fraturar um braço ao competir.

O pequeno Giorgian no cavalo de corrida do pai: paixão pelo turfe até hoje — Foto: Arquivo pessoal

O pequeno Giorgian no cavalo de corrida do pai: paixão pelo turfe até hoje — Foto: Arquivo pessoal

O futebol para ele começou como normalmente começa para qualquer criança de Nuevo Berlín. Às margens do Rio Uruguai, no campo do Baby Futbol, onde treina a equipe do Club Pescadores Unidos. Mas logo se viu que o filho de Alfredo e Victoria não era como os outros.

– Ele tinha qualidade tremenda, totalmente diferente dos demais. Uma capacidade que não era normal. Era um menino humilde, com todas as qualidades para triunfar. Nunca brigava. O amor dele era a bola – lembrou Hugo Valli, que foi presidente do Club de Pescadores no período de Arrascaeta.

Em casa, o pai Alfredo fazia a sua parte. Competia com os cavalos, entregava pães para complementar a renda e nos tempos livres usava o pequeno jardim para treinar as habilidades do filho. O incentivava oferecendo 5 pesos uruguaios a cada gol que ele marcasse nos torneios locais. Logo deixou de cumprir a promessa, porque os gols passaram a sair em mais quantidade do que o dinheiro da família.

– Numa temporada ele marcou 49 gols. Aí tive que ganhar mais corridas e vender mais pães para pagar o Giorgian – disse.

Com a camisa do Club de Pescadores Unidos e as chuteiras amarelas, Arrascaeta se destacou em competição local — Foto: Gustavo Rotstein
Chuteiras amarelas furadas. A história começa com dificuldades financeiras

Com a camisa do Club de Pescadores Unidos e as chuteiras amarelas, Arrascaeta se destacou em competição local — Foto: Gustavo Rotstein

A família fazia o que podia, e Giorgian retribuia mostrando um talento que surpreendia a todos, algo que nem mesmo uma chuteira surrada impedia. A de cor amarela era o xodó do menino, que não a trocava por nada. Ela hoje é guardada como um troféu por Alfredo e Victoria.

– Não tínhamos condição de comprar outro par. Ele adorava as chuteiras e as usou até não poder mais. Quando ele foi convocado para a seleção do estado de Río Negro, não sabiam o nome dele, mas disseram: vamos saber quem é porque é o menino das chuteiras amarelas – recordou o pai, que também guarda uniformes e fotos da época. A casa da família é a mesma de sempre, apesar da situação econômica atual estar muito longe das dificuldades de outros tempos.

Aos 15 anos, Giorgian deixou Nuevo Berlín e percorreu 400 quilômetros para seguir a carreira em Montevidéu. Depois de ser rejeitado num teste no Danúbio, foi aprovado pelo Defensor e logo passou a ser um dos destaques das categorias de base. Naquele momento, o talento prevaleceu sobre físico frágil, e os resultados apareceram. Em 2013 foi vice-campeão da Libertadores Sub-20 e campeão do Torneio Clausura, já pelos profissionais. Em 2014 foi o destaque do time semifinalista da Libertadores, chamando a atenção de clubes da Europa e da América do Sul.

Mas mesmo longe, Arrascaeta nunca deixou Nuevo Berlín de lado e ajudou mesmo involuntariamente. O Club de Pescadores recebeu US$ 9 mil por sua venda para o Cruzeiro, e o dinheiro foi investido na compra de um ônibus que leva os atletas em competições pelo estado de Río Negro. Na traseira do veículo há uma foto de Giorgian com os meninos, como forma de agradecimento.

Sala da casa dos pais em Nuevo Berlín é um memorial da carreira de Arrascaeta — Foto: Gustavo Rotstein

Sala da casa dos pais em Nuevo Berlín é um memorial da carreira de Arrascaeta — Foto: Gustavo Rotstein

Ele costuma retribuir. Durante a Copa do Mundo da Rússia, sensibilizado com o apoio dos alunos da escola onde estudou na infância, mandou confeccionar 250 camisas da seleção do Uruguai com seu nome para serem entregues. Nas férias, vai a Nuevo Berlín reencontrar parentes e amigos. O assunto preferido são as corridas de cavalo. Giorgian e o pai são donos de Scalado, Kemey e Yesse Yoee, animais que competem pelo país. Kemey, aliás, está tatuado em sua perna.

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Foi em Nuevo Berlín onde se refugiou quando entrou em litígio com o Cruzeiro antes de se transferir para o Flamengo.

– É um lugar de gente muito bacana. Uma cidade pequena, tranquila e segura. Gosto de fazer churrasco e estar com meus amigos e minha família. Consigo tirar um pouco e foco e fico mais tranquilo – resumiu Arrascaeta.

À beira do Rio Uruguai, crianças de Nuevo Berlín usam camisas presenteadas pelo ídolo local durante a Copa do Mundo — Foto: Gustavo Rotstein

À beira do Rio Uruguai, crianças de Nuevo Berlín usam camisas presenteadas pelo ídolo local durante a Copa do Mundo — Foto: Gustavo Rotstein

Com dinheiro de venda de Arrascaeta do Defensor para o Cruzeiro, o Club Pescadores Unidos comprou ônibus para transportar seus jogadores — Foto: Gustavo Rotstein

Com dinheiro de venda de Arrascaeta do Defensor para o Cruzeiro, o Club Pescadores Unidos comprou ônibus para transportar seus jogadores — Foto: Gustavo Rotstein

Fonte: GE/Flamengo

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