Jovem usa redes sociais para denunciar agressões de ex-namorado no DF: ‘Inferno’

Ana Clara de Souza Arante, de 23 anos, fez desabafo na internet. Nesta quinta-feira (14), ela também foi a delegacia registrar sétima ocorrência policial contra homem

Uma jovem de 23 anos resolveu denunciar, nas redes sociais, agressões físicas e psicológicas que diz ter sofrido nos últimos anos. A estudante de nutrição Ana Clara de Souza Arante publicou, nesta quinta-feira (14), fotos do rosto machucado e partes do corpo roxas. Ela diz que as marcas são resultado de agressões praticadas pelo ex-namorado.

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Atendimento à Mulher II (Deam II), em Ceilândia. A jovem afirma que já tinha registrado seis ocorrências contra o ex e, nesta quinta, denunciou o homem pela sétima vez, por uma agressão ocorrida em setembro do ano passado (veja mais abaixo).

“Já fui agredida inúmeras vezes, meu psicológico foi destruído, possuo traumas que só Deus sabe. Essas fotos aí não são nada comparado ao que já passei. Vocês não sabem e não saberão metade do inferno em que vivi e vivo”, disse no relato postado na internet.

Agressões

À reportagem, Ana disse que foi agredida várias vezes pelo ex durante seis anos de relacionamento. “Eu sentia dó. Ele ameaçava se matar caso eu denunciasse. Mas ele já ameaçou me matar, e eu sentia que ninguém acreditava em mim, e isso me desmotivava”, afirmou a jovem.

Em uma das denúncias anteriores, apresentada em março do ano passado, o ex-namorado da jovem foi indiciado e denunciado à Justiça pelo Ministério Público do DF, por lesão corporal decorrente de violência doméstica. O caso ainda não foi julgado.

Ana Clara de Souza Arante, de 23 anos,  vítima de violência doméstica — Foto: arquivo pessoal
Ana Clara de Souza Arante, de 23 anos, vítima de violência doméstica — Foto: arquivo pessoal

Segundo Ana Clara, a agressão mais recente ocorreu no dia 26 de setembro. Ela afirma que o ex a viu com outra pessoa e “surtou”.

“Ele me puxou para conversar. Me ameaçou jogar de um barranco, disse que eu era um lixo. Aí ele ligou o carro e foi embora, e depois me ligou de novo e voltou. Então começou a dar cavalo de pau perto de mim pra me atropelar”, contou.

“O que me encorajou foi perceber que a culpa não era minha. Eu não tinha essa noção de que ele era doente.”

Relato nas redes sociais

Veja na íntegra o depoimento de Ana Clara nas redes sociais:

“Carta aberta a todas as mulheres que passam por violência física e psicológica e ao meu agressor

*21 de dezembro de 2020, a última vez em que fui agredida (ou penso, né).

Embora a violência contra a mulher constitua um crime grave, a Lei Maria da Penha ainda é muito falha. Já recorri muito à delegacia, a juiz e não deram resolvidos positivos (tanto que estou nisso até hoje).

Confesso que uma parcela de culpa seja minha por sempre ceder a ameaças, persuasões, manipulações e juras de amor e de mudança. Mas, quando a gente ama, quando existe apego demais, a gente fica cego. E, meu Deus, como fui cega! Cega por 6 anos. Sim, vivi um relacionamento abusivo por 6 anos e fui agredida durante anos.

Durante 6 anos houve violências psicológicas e físicas, xingamentos, difamação, manipulações, mentiras, tentativa de atropelamento, tapas, murros, mordidas e, para piorar, traição. Por 3x tentei me defender, e ele usa isso como desculpa que eu o agredi também. Usa até de chantagem emocional para eu ajudá-lo, para eu ter dó. Eu desenvolvi uma dependência emocional tão grande, que não me via fora daquilo, me sentia culpada, com medo e sozinha.

Ana Clara de Souza Arante, de 23 anos,  vítima de violência doméstica — Foto: arquivo pessoal
Ana Clara de Souza Arante, de 23 anos, vítima de violência doméstica — Foto: arquivo pessoal

Mas, Ana, por que você está expondo isso só agora? Porque, finalmente, me encorajei! Por anos, fui chamada de louca, mentirosa e finalmente decidi contar meu lado e única verdade dessa história. A verdade que amigos dele ocultam, passam pano, me colocam como mentirosa e o colocam como vítima.

Hoje, só hoje, enxergo com clareza que foram os anos mais tóxicos da minha vida. Todo agressor é realmente uma farsa. Ele, por exemplo, é visto como alguém que chama atenção por ser bonito, inteligente, de boa família mas quem vê cara não vê caráter, né? Bom, a única vez que o juiz me ouviu, ele usou tornozeleira eletrônica. Adiantou? Não! Pois a perseguição continuou.

Já fui agredida inúmeras vezes, meu psicológico foi destruído, possuo traumas que só Deus sabe. Essas fotos aí não são nada comparado ao que já passei. Vocês não sabem, e não saberão metade do inferno em que vivi e vivo.

Eu tô cansada das pessoas me olharem e me julgarem, sendo que ninguém está apanhando e vivenciando tudo aquilo no meu lugar. Cansada de vocês passarem pano. Cansada de ser agredida psicologicamente e fisicamente.

Me encorajei a postar esse texto pra encorajar quem passa por isso, pra pedir socorro pra pessoas próximas que ainda não sabem, pois, por enquanto, ainda sou estatística da Maria da Penha, mas, se continuar desse jeito, serei mais uma estatística de feminicídio.

Obs: apenas algumas fotos de alguns ocorridos (SIC).”

Fonte: G1/DF | Repórter: Mara Puljitz

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