Violência doméstica: DF é capital com mais registros de mulheres agredidas no país em 2019

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Entre ocorrências que cresceram estão violência de gênero e morte por intervenção policial. Dados fazem parte do 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta segunda-feira (19).


Violência contra a mulher precisa ser denunciada, de acordo com a polícia e a Justiça — Foto: Reprodução/TV Globo

O Distrito Federal registrou 16.549 ocorrências de violência doméstica no ano 2019. O número é o maior entre todas as capitais do país, de acordo com o 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta segunda-feira (19).

A violência doméstica é definida como a lesão corporal intencional praticada contra a mulher no ambiente familiar. Enquanto a incidência nacional do crime nas capitais é de 161 vítimas a cada 100 mil habitantes, esse número triplica no DF, chegando a 516.

O levantamento é realizado todos os anos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que reúne dados das secretarias estaduais de todo o país, ou seja, considera os casos que chegam a ser registrados pela Polícia Civil. Entre os poucos tipos de ocorrência que cresceram no ano passado estão a violência de gênero e a morte por intervenção policial (saiba mais abaixo).

No ranking das capitais, São Paulo ocupa o segundo lugar nos casos de lesão corporal contra mulheres, com 11.403 casos, seguido do Rio de Janeiro, com 9.063 ocorrências. Veja o ranking abaixo:

Lesão corporal contra mulheres em 2019

  1. Distrito Federal: 15.368
  2. São Paulo (SP): 11.403
  3. Rio de Janeiro (RJ): 9.063
  4. Belo Horizonte (MG): 7.862
  5. Goiânia (GO): 3.940
  6. Porto Alegre (RS): 3.816
  7. Salvador (BA): 2.884
  8. Fortaleza (CE): 2.471
  9. Manaus (AM): 2.370
  10. Belém (PA): 2.015
  11. Curitiba (PR): 1.990
  12. Recife (PE): 1.818
  13. Campo Grande (MS): 1.513
  14. Aracaju (SE): 466
  15. Boa Vista (RR): 432
  16. Palmas (TO): 270
  17. Vitória (ES): 100

De acordo com o estudo, as secretarias de segurança pública dos demais estados não disponibilizaram os dados com recorte por capital.

Dados por estado

Em todo o país, houve 266.310 ocorrências de lesão corporal contra mulheres no ano passado. Considerando os crimes de todos os municípios, o DF está em 6º lugar. Contudo, mesmo tendo população e território inferior, a posição mostra que os órgãos brasilienses registraram mais casos que 77% dos estados.

Em 2019, o DF teve o segundo maior número de feminicídios do Brasil, com o total de 33 – um aumento de 15% em relação ao ano anterior, que registrou 28 assassinatos de mulheres. O primeiro lugar foi ocupado pelo estado de São Paulo, com 184 casos.

Por protocolo, a Secretaria de Segurança Pública do DF investiga todo assassinato de mulher como feminicídio desde 2017. A tipificação muda caso a apuração aponte que o crime não foi motivado por gênero. Em julho deste ano, o governo federal recomendou protocolo semelhante a todo o país.

Crimes na pandemia

O anuário analisou ainda as ocorrências do primeiro semestre deste ano para avaliar o cenário da criminalidade durante o período da pandemia. Houve redução em todos os tipos de violência contra a mulher.https://9b418d1dddb79be634ce9fe634288a48.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

O estudo destaca, no entanto, que a diminuição do registro de algumas ocorrências neste período pode ter sido causado por “dificuldades e obstáculos que as mulheres encontraram para denunciar”.

“Como a maior parte dos crimes cometidos contra as mulheres no âmbito doméstico exigem a presença da vítima para a instauração de um inquérito, as denúncias começaram a cair na quarentena em função das medidas que exigem o distanciamento social e a maior permanência em casa”, cita pesquisa.

Crimes contra a mulher no DF durante a pandemia (1º semestre)

Ocorrência20192020
Lesão corporal1.6751.660
Ameaça9.8848.700
Estupro557441

Fonte: Anuário Brasileiro de Segurança Pública

Policiais mataram mais em 2019 e 2020

Exclusivo: polícia brasileira nunca matou tanto quanto em 2019; quase 80% eram negros
Exclusivo: polícia brasileira nunca matou tanto quanto em 2019; quase 80% eram negros

O Anuário da Segurança Pública analisa os crimes violentos, de gênero e contra a vida. Na capital, a maioria dos crimes teve redução em 2019. Além das lesões corporais contra mulheres, outro tipo de ocorrência que teve aumento foram os casos de “morte por intervenção policial“, dentro e fora de serviço. Houve dez casos na capital federal em 2019, contra cinco no ano anterior.https://9b418d1dddb79be634ce9fe634288a48.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

O número de mortes causadas por policiais também apresenta tendência de crescimento em 2020. Só no primeiro semestre deste ano, foram oito casos. Até junho do ano passado, eram quatro registros.

Uma das vítimas em 2019 foi o médico Luiz Augusto Rodrigues, de 45 anos, baleado na cabeça por um PM em novembro. O endocrinologista foi assassinado quando saía de um bar, na quadra 315 Sul.

Os policiais investigados disseram em depoimento que “suspeitaram da vítima por conta do horário e do alto índice de veículos roubados na Asa Sul”. A família do médico e um amigo dele, que estava no local, alegam inocência.

Corregedoria da PM faz reconstituição de crime que resultou na morte de médico no DF — Foto: TV Globo/Reprodução
Corregedoria da PM faz reconstituição de crime que resultou na morte de médico no DF — Foto: TV Globo/Reprodução

O militar apontado como autor dos tiros foi indiciado por homicídio com dolo eventual, quando se assume o risco de matar. Ele está afastado das ruas, mas ainda cumpre funções administrativas.

Na maioria das unidades da federação, houve crescimento nas mortes causadas por policial, se serviço ou de folga. Segundo o boletim, apenas cinco estados tiveram redução: Mato Grosso do Sul, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Rondônia. Goiás não apresentou dados para análise.

Veja abaixo:

Tabela mostra ocorrências de morte por intervenção policial no primeiro semestre de 2019 e 2020 — Foto: Reprodução/Anuário Brasileiro de Segurança Pública
Tabela mostra ocorrências de morte por intervenção policial no primeiro semestre de 2019 e 2020 — Foto: Reprodução/Anuário Brasileiro de Segurança Pública

Fonte: Carolina Cruz, G1 DF

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