Secretário de Educação diz que Ibaneis ‘atropelou gestão democrática’ ao desconsiderar votações sobre PM no ensino

Governador disse que vai implementar novo modelo de gestão ‘de qualquer jeito’, sem levar em conta votações nas escolas. Rafael Parente anunciou exoneração nesta segunda (19).

Por Luiza Garonce, G1 DF

O secretário de Educação do Distrito Federal, Rafael Parente — Foto: Lúcio Bernardo Jr/Agência Brasília

O secretário de Educação do Distrito Federal, Rafael Parente — Foto: Lúcio Bernardo Jr/Agência Brasília

O secretário de Educação do Distrito Federal, Rafael Parente, disse ao G1 nesta terça-feira (20) que o governador, Ibaneis Rocha (MDB), “atropelou a gestão democrática” ao declarar que vai implementar “de qualquer jeito” a gestão compartilhada com a Polícia Militar nas escolas públicas da capital – mesmo naquelas que rejeitaram o modelo.

“Vejo um completo desalinhamento com a minha percepção do que é governar, que é servir”, disse Parente. “Eu acreditava na pirâmide contrária: os alunos estavam em cima e o secretário embaixo, dando apoio.”

“Atropelar a gestão democrática pode desfazer todo o trabalho que estava sendo feito, de criar um clima bom, de mostrar que as pessoas são importantes, que elas são ouvidas.”

Parente anunciou que foi exonerado por volta das 22h30 desta segunda (19) por meio de sua conta no Twitter (leia abaixo). Na mensagem publicada, ele agradece a “oportunidade” e o “favor” por ter sido destituído do cargo.

Secretário de Educação do DF, Rafael Parente, anuncia exoneração pelo Twitter — Foto: Twitter/Reprodução

Secretário de Educação do DF, Rafael Parente, anuncia exoneração pelo Twitter — Foto: Twitter/Reprodução

Ao G1, Parente criticou a “falta de entrosamento” dentro do próprio governo e lamentou as decisões tomadas na educação. “Estávamos criando uma relação de confiança, de cumplicidade com a comunidade escolar. Infelizmente, isso não existe dentro do próprio governo.”

“As pessoas ficam receosas de acordar e ser exoneradas.”

A exoneração dele deve ser publicada no Diário Oficial do DF nos próximos dias. No lugar de Rafael Parente, o nome cotado para assumir o cargo é o atual secretário do Trabalho, João Pedro Ferraz dos Passos.

Escolha democrática?

Estudante participa de votação para gestão compartilhada com PM em escolas do Distrito Federal — Foto: Secretaria de Educação do DF / Divulgação

Estudante participa de votação para gestão compartilhada com PM em escolas do Distrito Federal — Foto: Secretaria de Educação do DF / Divulgação

Oito escolas públicas do DF aderiram à gestão compartilhada com a PM – sendo três no último sábado (17). O processo de implementação, porém, não foi impositivo. Cada unidade passou por votação da comunidade acadêmica, incluindo alunos, pais, professores, servidores.

A proposta do governo é que a parte pedagógica dessas escolas permaneça sob a responsabilidade dos professores, diretores e orientadores, mas a segurança fique a cargo da PM. Os militares também têm autonomia para ministrar conceitos de ética e cidadania.

Alunos do CED 7 de Ceilândia hastearam a bandeira no primeiro dia de gestão compartilhada com a PM — Foto: Victor Gomes / G1DF

Alunos do CED 7 de Ceilândia hastearam a bandeira no primeiro dia de gestão compartilhada com a PM — Foto: Victor Gomes / G1DF

Desde o princípio, a Secretaria de Educação divulgava as deliberações nas unidades de ensino como parte de um “processo democrático” de escolha. No entanto, após duas escolas rejeitarem a nova gestão, o discurso do governo mudou.

Diante da negativa do CEF 407 de Samambaia e do Gisno, na Asa Norte, de aderir à gestão compartilhada, Ibaneis Rocha disse ao G1 que vai implementar o modelo “de qualquer jeito” e que “quem achar ruim que vá à Justiça”.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha — Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha — Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

O governador argumentou que o processo de sábado, na verdade, se tratava de uma “consulta pública e não de uma eleição”. Dessa forma, para ele, o pleito teve apenas caráter consultivo.

“Na eleição, você tem que respeitar o resultado. Na consulta, você informa a sociedade. Não faz uma lavagem cerebral como aconteceu no Gisno.”

O que é gestão compartilhada?

O programa de gestão compartilhada no ensino público do Distrito Federal começou em fevereiro de 2019. Ele é destinado a alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e também aos estudantes do ensino médio.

No modelo proposto pelo GDF, a Polícia Militar fica responsável pela segurança – incluindo o controle de entrada e a saída dos estudantes.

CED 7 de Ceilândia iniciou o ano letivo com a gestão compartilhada com a PM — Foto: Victor Gomes / G1DF

CED 7 de Ceilândia iniciou o ano letivo com a gestão compartilhada com a PM — Foto: Victor Gomes / G1DF

Segundo o governo, “os militares também trabalham no dia a dia dos estudantes com conceitos de ética e de cidadania, além de promoverem atividades esportivas e musicais no contraturno”.

Outra mudança é que os estudantes são obrigados a adotar um padrão de corte de cabelo – curto para meninos e coque para meninas. Como uniforme, eles usam camisa branca e calça jeans.

A previsão é de que o uniforme militar seja obrigatório, mas até agosto, as roupas ainda não tinham sido distribuídas.

Fonte: G1/DF

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