Vândalos picham tesourinha e provocam moradores e operários de obra entregue na Asa Norte

Túneis das entrequadra da 15/16 da Asa Norte amanheceram pichados no dia em que a restauração do equipamento foi entregue à população

HÉDIO FERREIRA JÚNIOR, DA AGÊNCIA BRASÍLIA

Pichações nas tesourinhas: vandalismo deixa a marca logo no primeiro dia da entrega da obra revitalizada. População manifesta desagrado com o desrespeito | Foto: Renato Alves / Agência Brasília

Foram pelo menos cem dias de trânsito interditado, 40 operários trabalhando, seis técnicos fiscalizando e R$ 495 mil investidos na recuperação de um dos equipamentos públicos mais práticos e simbólicos de Brasília. Tudo isso para que, no dia seguinte à reabertura e da obra – entregue à população na véspera do aniversário da cidade –, os três viadutos das tesourinhas das entrequadras 15/16 Norte já ganhassem a marca da vandalização.

A pintura nova, feita sobre as estruturas de concreto restauradas e que servem de passagem de veículos sob os eixos W, L e o Eixão, foi rabiscada com spray de tinta, tornando sujo um bem público que, décadas após sua inauguração, foi recuperado pela primeira vez pelo Governo do Distrito Federal (GDF). A depreciação do espaço deixou decepcionados moradores, comerciantes e os operários envolvidos nas obras de recuperação.

“É frustrante. A gente fica desgostoso ao se deparar com atitudes como essa depois de vários dias de trabalho para finalização da pintura”, lamenta Fabiano Alves Paulinos, um dos pintores responsáveis pela aplicação da tinta cinza antipichação, que permite a remoção de manchas como as produzidas pelo spray. Ele foi um dos primeiros operários a ver os estragos, quando chegou na manhã seguinte para dar os últimos acabamentos da estrutura.

Revolta

Morador da 416 Norte, o consultor ambiental Ronaldo Weigand, de 53 anos, também recebeu com tristeza, pelo Whatsapp da quadra, a notícia de vandalismo em grupo. Tanto os vizinhos quanto os comerciantes manifestaram desagrado com a depreciação do espaço recém-recuperado.

“A solução seria ocupar os espaços com grafitagens de artistas da cidade”Ronaldo Weigand, consultor ambiental

“É muito triste que a obra sofra esse impacto antes mesmo da inauguração. Nós da vizinhança ficamos muito revoltados. Foi uma sensação geral de indignação”, reclama ele, que atenta ao fato de, além das pichações, as travessias das tesourinhas ainda terem de lidar com cartazes de propagandas afixados indevidamente. “A solução seria ocupar os espaços com grafitagens de artistas da cidade”, sugere.

A Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) ainda estuda uma data para a remoção da sujeira feita por pichadores. Chefe do Departamento de Edificações da Novacap, Luciano Humberto de Souza lembra que, apesar de terem utilizado uma tinta especial para minimizar os impactos de vandalismo, o GDF tem custos com o trabalho. “Além de solventes e outros materiais, mobilizamos uma equipe que poderia ser utilizada em outras atividades para passar o dia limpando a poluição visual”, explica.

Película

Sobre a pintura foi feita a aplicação de uma tinta que tem como principal finalidade proteger a estrutura contra agentes agressivos ao concreto e ao aço, formando uma película protetora que inibe a absorção de elementos que os danifiquem. “A proteção antipichação, nesse caso, passa a ser secundária, apesar de ser um diferencial no enfrentamento pelos problemas corriqueiros diante do excesso de vandalismo”, explica o engenheiro civil da empresa responsável pela execução da obra, Felipe Braga de Moura.

O técnico lamenta que a depreciação, entendida por ele como um ato de “desrespeito e covardia” de um grupo para com a cidade, seus moradores e comerciantes – que tiveram as vendas sacrificadas no período de baixa circulação de veículos e trânsito parcialmente interrompido. “Ver ignorado todo um planejamento do GDF e da nossa construtora para conseguir entregar um símbolo da cidade em plenas condições de uso na celebração de seus 60 anos é triste, lamentável e indignante”, afirma. Ele faz coro à voz da Brasília que insiste em se reinventar para contemplar com cidadania cada um de seus moradores, inclusive os poucos que nem se dão conta do que é ser cidadão.

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