COISA DE DOIDO

Por: Paulo Castelo Branco

É BOM “JAIR SE ACOSTUMANDO” COM A PERDA DO PODER

Por Paulo Castelo Branco*

“Mundo, mundo, vasto mundo, se me chamasse Raimundo, seria uma
rima, não seria uma solução”.
Carlos Drummond de Andrade

Não é rara a destruição de reputações de num dia para o outro. Nestes tumultuados
dias, a reputação atingida é a do ex-ministro Sérgio Moro. Magistrado exemplar que
desempenhou sua missão com destemor, enfrentando quadrilhas organizadas que
tomaram conta do crime e da política.
Desde o episódio da corrupção no caso Banestado, que Moro mantém conduta dura
contra criminosos e recebeu da população apoio, além de reconhecimento
internacional pelo seu conhecimento jurídico e desempenho na função pública.
Condecorado por inúmeras instituições, recebeu dezenas de convites para expor as
suas ações.
Auxiliado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, agiu com espírito público sem
receio de ser assassinado pelo crime organizado ou por loucos de toda espécie. Não
seria surpresa, pois, em outros países com problemas idênticos, magistrados foram
eliminados com crueldade.
Optar pelo exercício da magistratura é ato de desprendimento. A responsabilidade de
julgar solitariamente sobre o futuro de pessoas, as quais, muitas das vezes, inocentes
desavisados envolvidos pelas teias do crime.
Na nossa cultura, criticar os personagens heroicos da nossa história que são, ao longo
dos anos, desnudados e expostos, especialmente nesta quadra de redes sociais e seus
robôs preparados para impulsionar mensagens mentirosas, que, em minutos,
transformam heróis e bandidos.
O episódio da saída de Moro expôs o real mito, Jair Bolsonaro, e o levou às cordas.
Bolsonaro foi inexpressivo parlamentar profissional, especializado em agredir minorias
e louvar ditadores e torturadores.
No longo período de escândalos por toda parte, o esperto Messias saiu Brasil afora
divulgando suas ideias absurdas, mas aceitas pela população com o discurso de acabar
com a corrupção institucional e derrotar os “comunistas”, como se ainda houvesse
seguidores fiéis à ideologia. Era e é uma farsa.
A aceitação de Sérgio Moro para ser Ministro da Justiça e Segurança Pública deve ser
olhada como ato de coragem e espírito público. Ainda existem pessoas que acreditam
ser possível progredir com ações que independem do presidente da República. E
Moro, chegou e fez certo. Com o slogan “Faça Certo” a sua gestão no Ministério da
Justiça e Segurança Pública primou em obedecer à lei e à Constituição.
A denúncia que fez contra Bolsonaro e sua família atende ao clamor público, cansado
de assistir a defesa irresponsável que faz de seus filhos e outros investigados. Aceitar a
imposição do presidente para interferir na Polícia Federal é admitir a participação em

ato ilegal. Moro saiu, e saiu tarde, pois suportou muito as investidas de um presidente
desregulado mentalmente.
É bom Bolsonaro “jairseacostumando” com a perda do poder, na melhor hipótese, e
do mandato. O Brasil precisa de modificações no processo eleitoral para impedir que
candidatos, como ele, cheguem ao poder sem o conhecimento profundo da sua vida
pregressa e debate intenso com seus concorrentes. Motivos que impeçam a presença
nos debates deveriam desclassificar a candidatura do ausente.
Além destas questões, vale imaginar se Sérgio Moro não é um agente infiltrado no
governo para apurar as acusações feitas a Bolsonaro e a seus filhos, todos escolhidos
pelo voto soberano do eleitor.
A lei que garante ao policial agir infiltrado em quadrilhas, excepcionalmente pode, por
analogia, ter sido estendida pelo Poder Judiciário ao juiz, quando convidado a assumir
o Ministério da Justiça, com as garantias de magistrados.
Pode ser estapafúrdia a hipótese, mas, Jair Messias Bolsonaro é, também,
estapafúrdio.


Brasília, 29 de abril de 2020.


*Paulo Castelo Branco é advogado, escritor e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal

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