Neste domingo (11) é celebrado o Dia dos Pais. ‘É preciso mudar conceitos onde papel da mãe é obrigatório e do pai opcional’, afirma socióloga.
Por Larissa Passos*
Comerciante do DF, Marcelo Rodrigues segurando sua filha. — Foto: Arquivo Pessoal/Marcelo Rodrigues
Neste domingo (11), Dia dos Pais, muitos pais e filhos tornam mais intenso o desejo de abraçar, beijar, brincar e entregar presentes. Mas o que é a paternidade nos dias atuais?
Pesquisadores que estudam gênero dizem que ainda convivemos com uma cultura em que “pai bom é o que ajuda” – mas a paternidade é muito mais do que isso. “O pai é a figura que está presente, independentemente da situação. Seja na hora de trocar fraldas, dar banho, alimentar, aconselhar, cuidar e se divertir”, afirmam os especialistas.
Segundo a doutora em sociologia e professora da Universidade de Brasília (UnB), Ana Liési Thurler, o comportamento do “ajudar” persiste porque ainda prevalecem práticas patriarcais que direcionam o papel da mãe como obrigatório e o do pai opcional (veja mais abaixo).
O comerciante Marcelo Rodrigues, de 35 anos, é o oposto da definição de “pai opcional”. Ele dedica-se inteiramente para os filhos e divide as tarefas com a esposa, Suzana Souza, de 37 anos.
“Desde o nascimento do meu pequeno, de 3 anos, sempre dediquei o melhor do meu tempo pra ele. Dei banho, ninava pra dormir, trocava e troco as fraldas. Saio com ele pra cima e pra baixo.”
Marcelo conta que desde criança sonhava em formar uma família. “Eu gostava de brincar de família e gostava muito dos bebezinhos. Por volta dos meus 10 anos, passei a ajudar minha tia a cuidar do meu primo”, conta.
Família de Marcelo Rodrigues, no DF. — Foto: Arquivo Pessoal/Suzana Souza
“Sempre quis ser pai. Minha esposa não pensava em ter filhos, mas disse que me daria filhos, porque eu merecia ser pai.”
De acordo com Suzana, o marido não ajuda, ele participa. “Ele e eu tentamos ser uma parceria perfeita para nossos filhos. Ele como pai é criativo, consegue ser doce e ao mesmo tempo manter o pulso firme”, diz.
“É como se fosse uma mãe sem leite nos peitos”, brinca Suzana.
Momentos compartilhados
Página “Papai vamos brincar”. — Foto: Reprodução/Facebook
Marcelo é tão apaixonado pelos filhos que acabou criando uma página no Facebook e no Instagram chamada Papai vamos brincar. O objetivo é compartilhar os momentos com Heloísa, de 8 meses e Nícolas, de 3 anos.
“A priori foi pra registrar esse mundo prazeroso paterno, que nos dias corridos de hoje, acaba se perdendo da nossa memória”, afirma. Mas ele acabou mostrando que é possível acabar com o mito de que só as mães sabem cuidar de um filho.
“Queria mudar essa cultura de que o pai não leva jeito e incentivar os homens que ainda não se atentaram para esse mundo maravilhoso que é a paternidade.”
Comerciante do DF, Marcelo Rodrigues dá banho na filha, Heloísa — Foto: Arquivo Pessoal/Marcelo Rodrigues
Segundo Marcelo, ser pai é criar uma versão melhor para si mesmo, para os filhos e para a humanidade. “Sinto por aqueles que não compartilham. Essa fase maravilhosa nunca voltará. Eles perdem a oportunidade de imprimir algo bom na vida dos herdeiros”, lamenta.
“Ser pai é estar presente, lado a lado com seu filho, em todos os momentos. É dizer sim para esse sorriso diário que a vida me presenteou. É aproveitar cada momento com eles, como se fosse o último.”
‘Ajudar’
Para a pesquisadora Ana Liési Thurler, em um contexto machista, a mãe tem todos os deveres e o pai “ajuda quando tiver disponibilidade, ou quando quiser”. E é isso que precisa ser modificado.
“A presença do pai é necessária quando representa acolhimento, cuidado, afeto, proteção”.
A professora explica que o papel do pai passa por transformações na sociedade devido às demandas dos filhos. “Acredito que temos mais diálogo entre as gerações, as questões têm mais visibilidade”, diz a socióloga.
Domingo no Parque tem edição especial para o Dia dos Pais — Foto: Jenny Faulstich
De acordo com Ana Liési, a participação do pai pode trazer mudanças quando ele ensina outras formas de organização da família e outras possibilidades de relacionamento no interior desse grupo. “Assim, ele se torna uma referência forte e positiva para seus filhos e filhas”, afirma.
A professora alerta que o homem pode se tornar protagonista na paternidade. “Ele pode ser um pai cuidador, protetor, amoroso, acolhedor, ser ético e presença cidadã na sociedade”, aposta.
“Todo homem é um sujeito livre. Pode pensar e fazer escolhas.”
*Sob orientação de Maria Helena Martinho
FONTE; G1/DF