Vacina da COVID-19: veja as mais promissoras e o que esperar

Por: Redação SOS
Foto: Minha Vida

Quase 200 pesquisas estão na corrida para encontrar uma solução que acabe com a pandemia do novo coronavírus

A corrida por uma vacina contra a COVID-19 é um dos assuntos que está em destaque no mundo todo. Atualmente, das 176 imunizações em estudo, que foram registradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sete delas são as mais promissoras na campanha para conter a pandemia do novo coronavírus.

Essas principais candidatas estão na chamada fase 3 de testes, a exemplo da vacina de Oxford, da Coronavac e daquelas que ganharam notoriedade por terem sido aprovadas por algum governo – como foi o caso da vacina russa, que deu o que falar pela rapidez com que foi desenvolvida e liberada pelas autoridades locais.

A verdade é que cientistas de todo o planeta trabalham em ritmo frenético para encontrar uma possível solução contra o vírus que se alastra pelo mundo desde dezembro de 2019. Isso porque especialistas são unânimes em dizer que, por ora, a vacina seria a forma mais eficaz de controlar a doença.

Entretanto, ainda não existe nenhuma fórmula efetivamente aprovada para distribuição e muitas dúvidas pairam sobre o tema. Afinal, o que podemos esperar das vacinas que estão sendo estudadas? Será que ter uma imunização eficaz significaria o fim definitivo da COVID-19? Entenda:

Vacinas da COVID-19: quais são e como funcionam

Atualmente, três tipos de tecnologia são utilizadas nas pesquisas para a vacina da COVID-19:

  • Vacinas de vírus enfraquecidos
  • Vacinas de adenovírus enfraquecidos
  • Vacinas de RNA mensageiro

Dentre todas as opções pesquisadas, as mais promissoras, que têm se destacado até o momento, são:

Oxford/Astra-Zeneca

  • Tecnologia utilizada:adenovírus atenuado
  • Fase atual:3
  • Previsão de fim da pesquisa:31/10/2021.
    A vacina de Oxford, nome popular da fórmula pesquisada pela farmacêutica AstraZeneca, foi uma das primeiras a despontar como possível solução contra o novo coronavírus. Esta concorrente usa um método inovador que, até então, não havia sido utilizado em nenhum outro tipo de vacina existente: a tecnologia de adenovírus enfraquecido.

Os adenovírus são um grupo de vírus que causam doenças respiratórias leves, como resfriados. No caso da vacina de Oxford, a técnica consiste em enfraquecer o adenovírus CHAdOx1 (responsável pelo resfriado de chimpanzés) e, a partir de pequenas modificações na estrutura do vírus, fazer com que ele possa ter a chamada proteína S (de “spike”, termo em inglês para “espícula” ou “gancho”).

Essa estrutura está presente no SARS-CoV-2 e é considerada como uma chave para que o nosso sistema imunológico possa trabalhar contra o vírus. “O objetivo da vacina é fazer com que as nossas células passem a produzir essa proteína e que isso ensine o sistema imune a se defender do coronavírus”, explica Francisco Ivanildo de Oliveira Jr, gerente de Qualidade Assistencial e Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Sabará Hospital Infantil.

Ao todo, 30 mil pessoas participam da fase 3 dos testes do imunizante, com idades acima de 18 anos, inclusive idosos. Até o momento, a vacina de Oxford tem apresentado resultados positivos nos ensaios – que têm uma parte sendo conduzida no Brasil, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo e o Instituto D’Or, no Rio de Janeiro.

Apesar do otimismo, as pesquisas com a vacina chegaram a ser paralisadas após a presença de efeito adverso em um dos participantes do estudo. Porém, os testes foram retomados tanto no Reino Unido quanto no Brasil, após autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

De acordo com o estudo mais recente sobre a vacina, voluntários conseguiram produzir respostas imunológicas, inclusive a chamada célula T, após receberam a imunização. Além disso, a Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, firmou uma parceria com a AstraZeneca para que haja uma transferência de tecnologia da vacina e o Brasil seja possibilitado de produzir a vacina até dezembro de 2020.

Sinovac/Coronavac

  • Tecnologia utilizada: vírus inativado
  • Fase atual: 3
  • Previsão de fim da pesquisa: Outubro de 2021
    A vacina chinesa da farmacêutica Sinovac ganhou notoriedade no Brasil por também ter desembarcado no país. Após uma parceria sino-brasileira, o Instituto Butantan passou a realizar testes da vacina com voluntários brasileiros e, caso seja aprovada, ela também será produzida por aqui graças a um acordo de transferência de tecnologia.

Diferente da vacina de Oxford, a Coronavac utiliza a técnica tradicional de inativação do vírus. Este é o mesmo princípio usado na vacina da gripe ou da poliomielite, por exemplo. “Ela usa o próprio coronavírus inativado (morto) para estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos que neutralizam o vírus”, explica Francisco Ivanildo, adicionando que este tipo de vacina é considerada segura até mesmo para os grupos de risco da COVID-19.

João Prats, infectologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, ressalta ainda que a vacina possui outra característica importante no combate ao vírus. “Ela tem uma substância que intensifica a vontade do corpo de produzir anticorpos e chama mais a atenção do sistema imunológico”, conta o médico.

Atualmente, a Coronavac também está na etapa três dos testes clínicos, com quase 9 mil voluntários (entre 18 e 59 anos e idosos) no Brasil. Estudos preliminares das fases anteriores mostraram resultados bastante efetivos em relação à resposta imunológica do organismo dos participantes, inclusive nas pessoas acima de 60 anos.

Segundo o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, estudos da fase 2 da vacina mostraram que a Coronavac induziram uma taxa de 98% de resposta imunológica no grupo de idosos. Diante dos resultados, o governo de São Paulo já espera receber 46 milhões de doses do imunizante até dezembro de 2020.

Vacina da Sinopharm

  • Tecnologia utilizada: vírus inativado
  • Fase atual: 3
  • Previsão de fim da pesquisa: Julho de 2021
    A farmacêutica chinesa Sinopharm está desenvolvendo duas vacinas contra a COVID-19. Testadas nas cidades de Pequim e Wuhan, as imunizações têm como base tecnológica a inativação de duas cepas diferentes do SARS-CoV-2. Assim, o princípio das vacinas da Sinopharm é o mesmo utilizado na concorrente Coronavac.

De acordo com João Prats, a técnica consiste em inserir um agente na fórmula de forma que o vírus não cause doenças em pessoas. Para isso, uma amostra do vírus é coletada e inserida em nossas células (ambiente no qual o vírus é replicado). “Para deixar o vírus inativo, são usadas substâncias na vacina que impedem que ele cause a doença. Mas ainda assim é o próprio vírus”, explica o médico.

Na fase três, as vacinas da Sinopharm também estão demonstrando resultados positivos quanto à resposta imunológica e efeitos adversos no corpo. Ao todo, 30 mil voluntários devem ser recrutados para os testes com as imunizações, supervisionados pelas equipes de Pequim e Wuhan.

Assim como a Coronavac, a Sinopharm tem a possibilidade de realizar os testes de suas vacinas no Brasil. Em acordo firmado com o Instituto de Tecnologia do Paraná (TecPar), o estado terá acesso aos resultados das duas primeiras fases e, em caso de sucesso, ficará com o repasse de tecnologia para produzir a vacina no país.

Moderna

  • Tecnologia utilizada: RNA mensageiro
  • Fase atual: 3
  • Previsão de fim da pesquisa: Outubro de 2022
    A vacina da Moderna, farmacêutica de origem estadunidense com sede em Cambridge, no Reino Unido, traz uma tecnologia incipiente contra o SARS-CoV-2:imunização com RNA mensageiro.

Em nosso corpo, assim como em outros organismos, o RNA mensageiro é um fragmento de material genético que contém a fórmula da síntese proteica do corpo. Ao se conectar a outro tipo de RNA, o transportador, ambos realizam a produção de proteínas.

“Enquanto uma vacina tradicional usa vírus inativados ou atenuados, as de RNA mensageiro utilizam um pequeno fragmento do código genético do vírus, envolto em camada lipídica, formando nanopartículas que são injetadas no paciente. Isso não é capaz de causar uma infecção, mas pode ser suficiente para que as nossas células, ao absorver esse código genético, passem a produzir uma proteína que existe na superfície do vírus, para gerar, então, uma resposta do sistema imunológico”, explica o infectologia João Prats.

De maneira simplificada, uma vacina de RNA mensageiro é uma forma de “dar a receita” para nossas células produzirem um pedaço do novo coronavírus – no caso, a proteína S. “Assim, o sistema imunológico vai mostrar para as células a porção do coronavírus produzido e uma resposta contra isso será feita”, acrescenta o médico.

Por enquanto, os resultados da vacina de RNA mensageiro se mostraram promissores. “São as que, notadamente, parecem ter menos efeitos colaterais”, diz João Prats. No caso do imunizante da Moderna, um estudo preliminar da fase 1 dos testes revelou que os voluntários (45 adultos) tiveram algumas reações, como dor muscular e no local da injeção, cansaço, tremores, dor de cabeça, mas sem episódios de febre.

Agora, os testes da fase 3 são conduzidas com 30 mil voluntários, incluindo pessoas entre 18 e 59 anos e idosos. A expectativa, no entanto, é que a pesquisa em torno da vacina só seja concluída em outubro de 2022 – prazo mais longo quando comparado às outras concorrentes.

Pfizer/BioNTech

  • Tecnologia utilizada: RNA mensageiro
  • Fase atual: 3
  • Previsão de fim da pesquisa: Abril de 2021
    Outra candidata que utiliza o RNA mensageiro como base de indução ao sistema imunológico é a vacina desenvolvida pela Pfizer e BioNTech. Assim como o imunizante da Moderna, a pesquisa das duas farmacêuticas também tenta encontrar um produto que consiga passar a “receita” da proteína S por meio de uma vacina com fragmentos de material genético do SARS-CoV-2.

Na opinião da Sociedade Brasileira de Imunologia, as vacinas de RNA mensageiro podem ser promissoras não só por propiciar uma alternativa contra o coronavírus, mas por serem uma oportunidade de pesquisa com uso de material genético. “Essas vacinas são inovadoras e podem revolucionar a área de produção. São sintetizadas rapidamente a baixo custo e utilizadas sem muitas dificuldades para vários tipos de doenças”, declarou a SBI em comunicado oficial.

Estudos clínicos mais recentes da vacina de RNA mensageiro da Pfizer, publicados na MedRxiv, sugerem capacidade de indução para anticorpos IgG. Entretanto, ainda não é possível dizer que ela é capaz de fazer o organismo produzir células T.

Quanto aos efeitos colaterais, o relatório mostrou que os voluntários que participaram dos testes demonstraram dor no local da vacina, dor de cabeça e fadiga. As reações adversas locais e sistêmicas foram maiores após a segunda dose, mas consideradas aceitáveis nas doses mais baixas utilizadas.

Para a realização da fase três, a farmacêutica reúne quase 30 mil voluntários. Os participantes são adultos acima de 18 anos e idosos.

Vacina russa Sputnik V

  • Tecnologia utilizada: adenovírus atenuado
  • Fase atual: 2
  • Previsão de fim da pesquisa: Maio de 2021
    vacina russa, também chamada de “Sputnik V”, é uma das candidatas que gerou grande debate no meio científico. Além da polêmica em torno de sua aprovação prematura, ela também chama atenção por ser uma opção que utiliza a técnica de adenovírus modificado.

No caso da Sputnik V, são dois adenovírus usados como base para a sua fabricação: o Ad26 e o Ad5, responsáveis por resfriado em humanos. Assim como o imunizante de Oxford, o princípio da vacina russa é mudar geneticamente os adenovírus selecionados para que carreguem a proteína S do coronavírus consigo e, assim, estimular a produção de anticorpos contra o SARS-CoV-2.

Até o momento, havia certa desconfiança em relação à vacina desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, em Moscou, por ela ter sido aprovada pelo governo da Rússia antes mesmo que todas as fases essenciais de pesquisa estivessem concluídas ou que houvessem estudos publicados sobre ela em periódicos científicos.

Entretanto, no final de agosto, foi publicado o primeiro estudo sobre a vacina no jornal científico The Lacet. Segundo o relatório, após a aplicação da dose, a fórmula demonstrou ser segura com resultados positivos. Isso porque os voluntários começaram a desenvolver respostas imunes em seus organismos, com produção de células T e IgG.

Porém, o estudo publicado continha limitações, segundo os próprios pesquisadores: o espaço curto para os resultados (42 dias), a participação exclusiva de homens, o não uso de placebos e o número reduzido de voluntários (76 pessoas).

Mesmo assim, os experimentos da fase três já foram aprovados e devem acontecer com 40 mil voluntários de diferentes idades e grupos de risco. Assim como a vacina da Sinopharm, há uma previsão de que testes com 10 mil brasileiros sejam realizados no Paraná.

Vacina CanSino

  • Tecnologia utilizada: adenovírus atenuado
  • Fase atual: 3
  • Previsão de fim da pesquisa: Janeiro de 2022
    A farmacêutica chinesa CanSino foi a primeira a receber patente de vacina contra a COVID-19 em seu país de origem, segundo informou o jornal estatal Diário do Povo. O imunizante em questão é o Ad5-nCoV, uma fórmula que utiliza o adenovírus Ad5 atenuado – similar à técnica usada na vacina russa e na vacina de Oxford (com a diferença que a vacina inglesa recorreu a um vírus de resfriado de chimpanzé).

Até 2022, a CanSino espera concluir a fase 3 dos testes, que reúnem 40 mil voluntários (com 18 anos ou mais) de países como Chile, Rússia, Arábia Saudita e Brasil. Resultados preliminares das fases 1 e 2 da vacina demonstraram que a formulação não teve impactos severos no corpo humano e que induziu resposta imunológica de anticorpos – inclusive de células T, conforme publicado no jornal The Lancet.

Qual é a melhor vacina para COVID-19?

Diante de tantas pesquisas e opções em curso, ainda é difícil apontar a melhor vacina contra a COVID-19. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), mesmo que as tecnologias para a produção do imunizante estejam avançando de uma forma espetacular, os testes de eficácia são muito experimentais.

Desse modo, a única maneira de saber qual é candidata que vai funcionar melhor contra o coronavírus e quantas doses serão necessárias é observar o andamento da fase 3 dos testes. Porém, existe a possibilidade dos experimentos só serem concluídos a partir de 2021.

Quando sai da vacina do coronavírus?

A data para o lançamento da primeira vacina contra o novo coronavírus também é uma pergunta sem resposta. De acordo com especialistas e órgãos de saúde, tudo depende do desenvolvimento das pesquisas que hoje estão em andamento.

Recentemente, o governador de São Paulo, João Doria, falou sobre a possibilidade de vacinação com a Coronavac pelo SUS já em dezembro de 2020. Entretanto, segundo Ivan França, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a vacinação contra a COVID-19 não deve acontecer tão cedo no Brasil.

Por outro lado, uma reportagem do jornal estadunidense The New York Times revelou que o governo dos Estados Unidos orientou os órgãos de saúde dos estados para a possibilidade de vacinação para novembro de 2020 – data anterior a qualquer conclusão das fases 3 das pesquisas.

Sobre essa possibilidade, o médico Ivan França reforça que é preciso respeitar o tempo. “Essa situação hipotética é difícil de responder: se realmente vai existir algum tipo de liberação em massa [antes do fim dos estudos]. Caso haja, vai haver uma pressão popular pela liberação. Mas tudo depende dos estudos”, pondera.

Brasil terá a vacina do coronavírus?

Nos acordos feitos pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e Instituto Butantan, o Brasil deve receber, respectivamente, 100 e 60 milhões de doses da vacina contra a COVID-19, segundo a Sociedade Brasileira de Imunologia.

No entanto, para que o país tenha autonomia na produção de imunizantes, sem depender do exterior, é preciso produzir a vacina em território nacional. Isso requer adaptação e, muitas vezes, construção de uma planta de produção. Estes são objetivos a serem alcançados, possivelmente, no fim 2021 ou mesmo em 2022.

Quanto tempo dura a imunização da vacina?

Outra dúvida recorrente diz respeito ao tempo que a vacina do coronavírus protegerá a população. De fato, saber qual é a duração da ação dos imunizantes contra a COVID-19 é uma pergunta que não é fácil de responder, na visão de especialistas.

“Nos estudos, muitas delas não são de doses únicas. Existem vacinas que provocam imunidade duradoura, outras precisamos tomar anualmente, como a gripe. Outras precisam ser aplicadas com certa periodicidade de reforço, como a do tétano”, afirma Ivan França sobre as diversas possibilidades de vacinação para o coronavírus.

O infectologista ainda chama atenção para o fato de que algumas pesquisas apontaram para fórmulas que são capazes de induzir o sistema imunológico à produção de anticorpos IgG, ligados à reação imediata do corpo, enquanto outras sequer foram capazes de fazer o corpo sintetizar as células T, associadas à memória do sistema imunológico contra agentes patógenos.

Vacina em crianças, adolescentes e idosos

Os testes realizados até o momento têm priorizado alguns grupos. Majoritariamente, os voluntários selecionados para os experimentos são adultos acima de 18 anos e, em alguns ensaios, há a participação de idosos.

Para Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e membro do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia, ainda não ficou claro qual foi o critério que levou as pesquisas a priorizarem o grupo de adultos saudáveis.

Segundo a médica, a escolha pode estar atrelada a uma questão de logística para assegurar a imunização em um grupo maior da população, com o objetivo de conseguir controlar a pandemia.

O especialista Francisco Ivanildo explica que, normalmente, os testes iniciais de qualquer vacina são feitos em adultos saudáveis. Mas, segundo ele, algumas vacinas já começaram a ser testadas em crianças maiores de 5 anos para avaliar a segurança das fórmulas, assim como idosos, uma vez que a eficácia em adultos não é assegurada nesses grupos.

Cristina Bonorino acrescenta ainda que é esperado que as pesquisas com pessoas acima de 60 anos sejam específicas para esse grupo. “Nos idosos, existe a imuno-condescendência, o que faz com que eles não respondam bem à vacina. Se não ocorrer a separação de faixas etárias, é possível que haja confusão na análise dos estudos”, explica a médica.

Vacina em pessoas do grupo de risco para COVID

Outro ponto importante sobre a testagem da vacina diz respeito aos indivíduos que integram o grupo de risco da COVID-19. São pessoas com condições médicas pré-existentes, como a obesidade, hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e gestantes, entre outras.

Para a Sociedade Brasileira de Imunologia, é importante que esse grupo participe dos estudos para a vacina – assim como é necessário testar pessoas abaixo de 18 anos e os idosos. Mas, entre os estudos realizados que se destacam até o momento, a preferência por pessoas que não se enquadram nos fatores de risco para a COVID-19 tem prevalecido.

“Nos testes, as vacinas são aplicadas inicialmente em adultos saudáveis. Após a determinação da eficácia e de acordo com a composição e demonstração de segurança da vacina, outros grupos podem ser incluídos. No caso das vacinas com vírus vivos atenuados, habitualmente, não são indicadas em pessoas com imunodepressão grave ou gestantes”, explica Francisco Ivanildo.

Imunidade de rebanho com a vacina

imunidade de rebanho é um termo que entrou em pauta junto com o coronavírus. A expressão se refere a uma forma de imunizar a população pelo contato natural com o agente patógeno (no caso, o SARS-CoV-2). A ideia é que a convivência com o vírus faça a taxa de transmissão cair.

No começo da pandemia, a imunidade de rebanho foi vista como uma possível estratégia para controlar o contágio pelo coronavírus. Hoje em dia, ela é rebatida indiscutivelmente. A questão é que, no caso da COVID-19, calcula-se que com 70% das pessoas imunes haveria uma queda considerável na taxa de transmissão, segundo a Sociedade Brasileira de Imunologia.

Alguns estudos, de acordo com a entidade, indicam que a taxa pode ser menor. Mas, ainda assim, optar pela imunização de rebanho seria perigoso. “No caso do coronavírus, esperar alcançar este índice de imunidade através da infecção natural, como estratégia epidemiológica, é irresponsável e apenas um conceito teórico. Considerando a alta porcentagem de casos graves e óbitos, as consequências de uma ação deste tipo seria desastrosa”, diz a Sociedade Brasileira de Imunologia.

Deste modo, a vacina contra a COVID-19, usada de forma massiva e continuada, entra como alternativa efetiva para que a população atinja a imunidade de rebanho. “A única forma segura de induzir imunidade para controlar a transmissão do SARS-CoV-2 é uma vacina eficaz, aplicada regularmente e dentro de um programa público de imunização”, informa a SBI.

“Essa imunidade de rebanho nunca é atingida naturalmente, só com a vacinação. É o único jeito. Foi o que aconteceu com a poliomielite”, complementa Cristina Bonorino, lembrando a recente notícia de que a poliomielite foi erradicada no continente africano graças às campanhas de vacinação.

Ter uma vacina significa o fim da COVID-19?

Ao falar sobre a contenção do novo coronavírus, é preciso esclarecer as diferenças entre cura da doença e fim da pandemia. Desde o início, a COVID-19 tem cura. Por isso, é possível que ela desapareça em pacientes que contraíram o vírus e receberam tratamento.

Entretanto, quando se fala na pandemia de coronavírus, a vacina pode ser um mecanismo de controle dos casos de COVID-19. “O que a maioria dos cientistas acredita é que a primeira geração de vacinas não vai conferir imunidade esterilizante, isto é, não vai proteger da infecção. Mas vai proteger de formas graves, como acontece com a vacina da gripe, por exemplo”, diz Francisco Ivanildo.

Vacina em tempo recorde

A velocidade das pesquisas para encontrar uma vacina contra a COVID-19 chama atenção. Se for aprovado ainda em 2020 (ou mesmo em 2021), o tão aguardado imunizante representará um recorde. Até o momento, a vacina contra o ebola ocupa o posto de produto mais rápido a ser aprovado e distribuído para a população – com um total de cinco anos entre sua criação e aplicação efetiva.

Para a Sociedade Brasileira de Imunologia, é importante que a fase 3 das vacinas seja acompanhada com rigor, tendo um número de voluntários adequado à avaliação dos estudos e por um período de análise que permita avaliar sua real segurança e eficácia.

“Consideramos que será um desfavor à credibilidade das vacinas a distribuição de produtos de baixa eficácia imune e/ou que induzam imunidade por um período muito curto, dando a falsa impressão de ‘retorno à normalidade'”, diz a SBI em nota.

Especialistas da área médica reforçam que, embora as vacinas estejam em um processo de pesquisa rápido, o rigor científico não será deixado de lado. Neste sentido, outro fator de segurança nos testes são os investimentos tecnológicos e monetários aplicados.

“Para desenvolver uma vacina, são necessários estudos, tecnologia e rigidez. O que estamos vendo é se a vacinação tem efeitos colaterais, como toxicidade, dor, período subfebril. Mas temos uma situação de pandemia com milhões de óbitos no mundo. Há muito dinheiro investido para que isso seja feito de forma mais ágil. Mesmo essas tecnologias mais avançadas não mostraram que há risco de uma pessoa desenvolver a doença”, diz João Prats.

Segundo Cristina Bonorino, a ânsia por possíveis soluções para a doença levou a comunidade científica a publicar estudos equivocados. “O próprio caso da cloroquina é um exemplo. Todo mundo já viu que não dá para fazer isso. Então, a liberação da vacina vai depender muito de acompanhar as evidências e fazer um planejamento. A pressa não vai ajudar ninguém”, pontua.

Até a vacina sair, os especialistas recomendam que a população continue firme com a rotina de proteção, usando máscaras, fazendo a higienização correta das mãos e mantendo o distanciamento social.

“Enquanto a vacina não chega, continue se protegendo. Existe um clima de que podemos ir para a praia, para restaurante e bares sem respeitar as regras. Não existe ainda estabilidade que garanta que você não vai pegar a COVID-19. Todos devemos proteger a si e ao outro”, finaliza Ivan França.

Referência

Francisco Ivanildo de Oliveira Jr, gerente de Qualidade Assistencial e Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Sabará Hospital Infantil

Ivan França, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e membro do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia

Fonte: VimaVida

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