TODOS OS DIAS DOS NOSSOS PAIS!

Nestes tempos em que o casamento tornou-se meio que uma brincadeira; um experimentar de aventura socialmente obrigatória ou conveniente – sem maiores compromissos e com rompimento previamente aceito e previsto em nome do “tudo pela felicidade” e do nada pela abdicação, pela paciência, pelo investimento, pela construção – a efemeridade paradoxal aos votos sacramentais trocados perante o altar de Deus tem esfacelado as células familiares, tirando de seus membros a oportunidade de compartilharem, entre si, suas essências e funções.

Pais que antes trocavam declarações de amor, tornam-se adversários ferrenhos, contaminando suas almas e passando aos filhos mágoas da experiência de união alicerçada na areia.

Desperdiçaram, pela temerária insensatez, parte preciosa de suas vidas, e desperdiçam agora, sem se atentarem e mais uma vez, o mísero tempo que lhes sobrou para vivenciar as bênçãos de uma paternidade ou de maternidade plena, eis que seu exercício remonta a esforços quase sempre inglórios, obstaculizados pela desconfortável alternância de períodos de guarda, de visitas, de férias, pelos novos companheiros ciumentos etc., embaçadores das figuras do pai e da mãe; fragmentadores da doação de carinho, da passagem de ensinamentos e da dispensação de exemplos de vida.

O foco nos filhos – sem influências do passado matrimonial e do presente das novas relações – é o desafio que se apresenta a quem, mesmo que de forma distante da ideal, deseja vivenciar o prazer do cumprimento da missão à qual se propuseram quando da aliança espiritual sacramentada e da notícia da semente fecundada, comemorada como bênção divina; como consolidação da família; e como esperança de dias de felicidade.

Hoje é o “dia dos pais”, homenagem originada nos Estados Unidos em 1909 e estabelecida no Brasil no ano de 1953. Por aqui, veio para coincidir com o dia de São Joaquim (14 de agosto), tido pela igreja católica como o patriarca das famílias.

Apesar de a data manter-se precipuamente por circunstâncias comerciais – com ênfase no consumo material – não se pode negar que ela funciona como um bom motivo para duas ou mais gerações sentarem-se à mesma mesa, em salutares confraternização e festa; além de ser inegável gatilho mental, liberador de benvindos desejos por reconciliação, reaproximação ou reconstrução familiar.

Quiçá todos os dias do ano os filhos se dispusessem a voltar seus pensamentos e homenagens aos pais, com demonstrações – a conta-gotas e perenes o, eventualmente, por enxurradas – de carinho; de lições de vida apreendidas; de respeito ao próximo; de civilidade; de prontidão para assisti-los, ouvi-los, consolá-los, abraçá-los; tornando este dia dos pais – “oficializado” por outrem para a tudo isto fazer – nada mais do que igual aos demais 364 que nos acostumamos a lembrar dos nossos queridos pais, no sentido mais amplo da palavra “lembrança”, e nada menos do que estes foram por nós acostumados a receber, como expressão de do nosso amor.

Deixando um pouco ao largo o que pretendemos como ideal e aproveitando o gatilho de ser hoje um dia de homenagens, não percamos, então, a oportunidade para algumas justas palavras de louvor, de agradecimento e de reconhecimento a eles, quem tanto as merecem.

Amantíssimo pai:

Como me sinto prestigiado pela sua consciência do fato de que o menino é o pai do homem e de que o ato de educar a criança evita o castigar do adulto. 

Muito obrigado, pai, pelos seus legados de toda uma vida. Por ter se esmerado em incansáveis e, creio, bem sucedidas tentativas de me mostrar que a sabedoria se aprende com a vida e com os humildes; que não se deve levantar a voz contra os que não me entendem, mas, sim, melhorar meus argumentos; que o silêncio do seu coração é porto seguro para minhas aflições; que eu, como pai que também sou, devo sabiamente permitir que os meus filhos cometam erros.

Muito obrigado, meu querido pai, pela certeza que hoje tenho de que o senhor sempre teve razão ao me repreender; por tudo o que em mim semeaste e por ter tido tanta paciência para colher os frutos da semeadura; por ter suprido a minha insaciável necessidade, de toda uma vida, pela sua proteção.

Obrigado pela sua sabedoria em buscar me conhecer verdadeiramente; por me ensinar que aquilo que eu calar, aparecerá na boca do meu filho; por ser, para mim, um símbolo de amor, de dedicação familiar, de patriotismo, de civilidade, de bons princípios, de moral, de amor pela minha mãezinha, enfim, o melhor exemplo de homem que tive e tenho na vida.

Obrigado, pai, por ter me mostrado a dura realidade – contada e cantada em moda de viola – de que um pai cuida de dez filhos, mas, muitas vezes, dez filhos não cuidam de um pai, o que jamais me permitirá dormir em paz ou me acomodar sabendo que posso de alguma atender às suas necessidades de amparo e de carinho.

Bom Dia! Como filhas e filhos devemos todos os dias dar orgulho e ...
O maior PAI de todos!

Obrigado, agora a Ti, Pai Eterno, Criador do céu e da terra, por me ensinar o dever de honrar o meu pai, como forma de obediência a um de Seus mandamentos e de prolongamento dos meus dias sobre a terra que o Senhor me dá.

Obrigado por tudo!

Que todos nós possamos, então, curtir os nossos pais – presencialmente, para os que estão conosco, ou por lembrança, para os que não os têm mais – ensinando aos nossos filhos aquilo que deles aprendemos, como forma de jamais deixarmos morrer conosco os valores da vida que tão especial e amorosamente nos foram passados por eles.

Vivam os pais em nossos corações!

Flávio Noronha

9 de agosto de 2020.

COMPARTILHE AGORA:

Leia também