Paulo Castelo Branco: VIAGEM À ILHA DE JAVA

Por: Paulo Castelo Branco

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Depois que o javanês foi citado em disputa que o casal não se lembra mais o que aconteceu, Ricardo, o marido, resolveu pesquisar o local que ouvira falar sobre o conto “O homem que sabia javanês” de Lima Barreto.
No Google e no Wikipédia, encontrou tudo sobre a ilha. Estranhou nunca ter ouvido referência ao local situado na Indonésia, país em que estivera com Rose, numa dessas viagens em grupo. A correria da programação e a dificuldade da guia em falar espanhol, pois o idioma materno era o javanês, impediram que a viagem fosse mais aproveitada.
Rose, que andou consultando amigos que haviam estado na ilha e ficou maravilhada com as fotografias, recebeu indicações de lugares que deveriam ser visitados.
O casal divulgou a viagem, entre os amigos, que iriam passar duas semanas na ilha. Seria a viagem do ano, estavam cansados de andar pelo mundo e só conhecê-lo pelos vídeos e fotografias sempre desfocadas.
Outro casal, Mário e Lourdes, aceitou o convite, e os quatro começaram a buscar passagens com melhor preço nas madrugadas, além de roteiros, hotéis, restaurantes e, quem sabe, não encontrariam algum brasileiro ou português que se dispusesse a acompanhá-los como intérprete.
Nas pesquisas, viram que a melhor forma de chegar à ilha era pegar um voo da Emirates, parando em Dubai e seguir para Jacarta.
Os preços das passagens eram caros; no entanto, os quatro estavam decididos a entrar nas reservas financeiras, e pagaram pra ver. Resolveram que o melhor seria passar uns dois dias em Dubai, lugar que não conheciam.
No dia de comprar as passagens, na opção da classe econômica, Lourdes reclamou que queria ir de executiva, pois estava fora do peso e não iria dar vexame de ficar espremida na poltrona. Rose apoiou e exigiu acompanhar a amiga. Avaliaram a questão e decidiram que Mário e Ricardo iriam de econômica.

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A longa viagem transcorreu sem imprevistos e, finalmente em Java, todos se hospedaram no hotel escolhido, mas que não era exatamente como imaginaram através das fotografias no site. Resolveram não criar caso. Desarrumaram as malas, tomaram banho e saíram em busca de restaurante. Na praça em frente, um chamativo local oferecia especiarias locais. Pediram comida igual para todos e foram servidos com cortesia e bom acolhimento.
Cansados, foram descansar para iniciar o passeio da manhã seguinte. Bem dispostos, se acomodaram no ônibus de turismo com destino às praias mais próximas. Conforme o combinado entre eles, fariam os outros percursos pela ilha em carro alugado.
Durante o passeio, numa breve parada, enquanto os amigos olhavam bugigangas, Lourdes sentiu o resultado da comida da véspera da chegada e foi ao banheiro. Lá ficou por longo período. Ao sair, o ônibus havia partido sem que ninguém constatasse a sua ausência.

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Sem falar javanês, começou a chorar e gesticular para ver se conseguia ajuda. Um homem corpulento a socorreu.  Determinou que se acomodasse na garupa de sua motocicleta e saiu em alta velocidade para encontrar o ônibus. O piloto, totalmente fora de forma, não deixava nenhum espaço para que Lourdes o abraçasse. Segurou-se no cós da calça dele e pediu a Deus que alcançassem o veículo que logo surgiu à frente. A motocicleta, dado o peso dos ocupantes, tinha dificuldade para desenvolver velocidade.
Em poucos metros, emparelharam ao ônibus e Lourdes começou a gritar, pedindo que parasse. Mário, na janela, percebeu a aflição do casal, e avisou ao motorista que parou imediatamente.  Lourdes desceu, retirou o capacete, e recebeu de seu salvador um olhar de alívio, missão cumprida.  Ficou tonta e o abraçou, retribuindo a gentileza. Mário, estupefato, assistiu a cena, e ainda ouviu o homem falar, em bom e claro português: – Meu nome é, naturalmente, Ricardão, ligue para mim quando puder, gostaria de revê-la. A viagem chegou ao fim!

Brasília, 10.03.2020
Paulo Castelo Branco/sosbrasilia.

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