Secretário de Segurança do DF faz balanço de 2019 e diz que 2020 ‘não vai ser fácil’

Secretário de Segurança do DF, Anderson Gustavo Torres, cotado para substituir o atual diretor da Polícia Federal (PF) — Foto: Lúcio Bernardo Jr / Agência Brasília

Para Anderson Torres, próximo ano terá ‘muitos desafios para diminuir números criminais’; leia entrevista.

Por Afonso Ferreira, G1 DF

Secretário de Segurança do DF diz que 2020 'não vai ser fácil'

Secretário de Segurança do DF diz que 2020 ‘não vai ser fácil’

No comandado da Segurança Pública do Distrito Federal, deste do primeiro dia de governo Ibaneis Rocha (MDB), o delegado da Polícia Federal Anderson Torres enfrentou, em 2019, crimes violentos e feminicídios. Além de denúncias de abordagens violentas da Polícia Militar.

  • Em entrevista ao G1, no gabinete da secretaria, o secretário falou por 30 minutos e defendeu os avanços de sua gestão em 2019. Mas fez questão de ressaltar que 2020 “será um ano de desafios”.

“Não vai ser fácil baixar o números de crimes”, afirmou o chefe da Segurança Pública.

Veja os temas abordados durante a entrevista exclusiva:

  1. Balanço de 2019
  2. Os crimes violentos no Distrito Federal
  3. O aumento no número de feminicídios
  4. As abordagens violentas da PM
  5. A nota para a Segurança Pública no DF
  6. As metas para 2020
Secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres  — Foto: Afonso Ferreira/G1

Secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres — Foto: Afonso Ferreira/G1

Leia a entrevista

G1: Como o senhor avalia esse primeiro ano a frente da Segurança Pública na capital do Brasil?

Anderson Torres: O nosso primeiro ano de gestão, eu avalio como um ano muito bom. A gente conseguiu evoluir na questão da integração das forças de segurança, nos números da criminalidade. Melhoramos nos vários pontos que eu considero fundamentais: crimes contra a vida e contra o patrimônio.

“Para fins de primeiro ano, considero que foi o ano muito bom.”

G1: O senhor falou em crimes contra a vida. Em 2019 tivermos crimes violentos com o esquartejamento do vigilante Marco Aurélio Rodrigues, o caso Rhuan Maycon, o caso Bernardo. Houve um aumento desses crimes?

  • Anderson Torres: Não aumentaram, pelo contrário eles diminuíram. Os homicídios diminuíram.
  • Mas os crimes bárbaros, eles realmente chocam a sociedade, chamam bastante atenção. O nosso trabalho de polícia judiciária está sendo muito bem feito, bem investigado, tudo apurado. Nesses três casos, por exemplo, os responsáveis foram presos e os processos estão em andamento.
  • Infelizmente, esses crimes ainda ocorrem. Acho que esses crimes passionais, esses crimes que envolvem sentimentos, emoção contra familiares, contra mulheres, realmente são crimes horrorosos que chocam muito a sociedade.
  • A gente lamenta e luta muito para que isso não ocorra, mas eventualmente ocorrendo a apuração tem sido extremamente rigorosa.

G1: Existe algum balanço de crimes violentos em 2019 no DF?

Anderson Torres: Tecnicamente falando, todo homicídio é um crime violento. Nós fazemos um balanço geral. A gente separa feminicídio e homicídio. Mas se houve um homicídio, é um crime violento. Tivemos menos 48 homicídios no DF [na comparação com 2018].

“Houve um diminuição de 12,5% nos homicídios em relação ao ano passado.”

G1: E os feminicídios no DF. Esse ano, o G1 acompanhou a morte de mulheres por questões de gênero. Contabilizamos 32 casos até a primeira semana de dezembro. Esse também é o número oficial?

Anderson Torres: Toda morte de mulher é registrada inicialmente como feminicídio no Distrito Federal. Depois, eventualmente, se evoluir para descaracterizar esse crime, isso é desclassificado e muda para homicídio de mulher. Em princípio é esse dado que você tem aí. Registrados 32 casos e confirmados 30 feminicídios

  • G1: E como combater os feminicídios? O número de casos tem mesmo aumentado? Ou aumentaram as notificações?

Anderson Torres: Não há um aumento muito grande, não há um aumento gigantesco nos casos de feminicídio. Ocorre que existe o advento da lei que tipificou o feminicídio, quatro anos atrás, e o aprimoramento das investigações.

“Com isso, a gente tem um aumento dos casos na tipificação dos crimes contra a mulher como feminicídio.”

Como combater esse crime? Combater com prevenção. Com denúncia, com o encorajamento das pessoas que têm ciência desses casos, das situações de violência e agressão contra mulheres.
O feminicídio não ocorre da noite para o dia. É um crime que vai amadurecendo, com agressões, ameaças, espancamentos.

“A mulher, ou quem tem ciência disso, precisa trazer essa informação.”

Esse ano, a gente evoluiu muito. Temos uma estatística de que apenas 30% das mulheres que morreram tinham registrado denúncia na delegacia. Quer dizer que 70% dos casos a gente não sabia da violência anterior naquela residência. Eu acho que houve um aumento muito grande das denúncias e isso tem resultado na nossa estatística.

G1: Em novembro, uma declaração feita pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) reacendeu um debate sobre a divulgação de casos de feminicídio. À época, ele disse: ‘Entendo que feminicídio não deveria ter divulgação’, o senhor concorda?

  • Anderson Torres: A divulgação é importante. Ele quis dizer ali, que deveria ter um estudo – como foi feito no caso de suicídios – para ver de que forma divulgar isso. Nos suicídios, há estudos, inclusive internacionais, onde foi comprovada a tese de não divulgar para não incentivar as pessoas que tem alguma intenção de tirar a própria vida.

No caso de feminicídio, a gente realmente precisa estudar. Eu vejo como avanço do ano de 2019, em relação ao feminicídio, em ter trazido o tema para discussão. É um tema que tá aí na sociedade. Para todos discutirem, para a gente ver onde estão os gargalos e entender isso direitinho para achar as saídas de prevenção.

“O feminicídio é uma questão muito cultural. É uma questão social que a gente precisa evoluir, como sociedade, para evitar esse crime.”

'Continuo dando nota 8', diz secretário Anderson Torres para Segurança Pública no DF

‘Continuo dando nota 8’, diz secretário Anderson Torres para Segurança Pública no DF

  • G1: Em setembro, em entrevista ao G1, o senhor deu a nota 8 para a segurança pública no Distrito Federal. Qual a nota que o senhor dá para o ano de 2019?

Anderson Torres: Na verdade, quando a gente dá nota 8, a gente compara com o restante do Brasil. Eu não dei nota 8 comparando com a Suécia, com o Japão, com outros países.

“Em relação ao Brasil, eu continuo dando nota 8.”

G1: Nos últimos meses foram registrados episódios de violência policial em abordagens. Um médico foi mortona Asa Sul, um casal agredido em Taguatinga e um policial militar matou um vizinho com um tiro, em Águas Claras. Houve excessos nessas abordagens do PM?

Secretário Anderson Torres fala sobre investigações de abordagens da Polícia Militar do DF

Secretário Anderson Torres fala sobre investigações de abordagens da Polícia Militar do DF

Anderson Torres: Eu confio e acredito no trabalho da Polícia Militar. Esses casos são pontuais e estão sendo apurados, não tenha dúvida disso. Não são apurados pela Secretaria e sim pela Corregedoria da PM e, eventualmente, como no caso do médico, tem um inquérito na Polícia Civil instaurado que vai esclarecer as circunstâncias em que seu deu aquele fato.

“É ruim falar sem ter o resultado final da apuração. Ficamos no achismo e a gente não está aqui para isso.”

Agora, toda ação, toda abordagem, todo tipo de contato com a população que for feito pela polícia tem procedimentos. Os policiais são treinados. Se ficar comprovado qualquer tipo de desvio, tenho certeza que os responsáveis serão punidos.

G1: Pelas imagens que o senhor viu, houve excesso da polícia?

Anderson Torres: Difícil julgar. É preciso apurar. A corregedoria está aí para isso, existe para isso.

“Se houve excesso, tem que haver a punição.”

G1: Parece existir um eterno distanciamento entre a Polícia Civil e a Polícia Militar. Quando o senhor assumiu, disse que iria trabalhar pela integração entre as polícias, o Corpo de Bombeiros e o Departamento de Trânsito do DF (Detran). Por que isso não ocorreu?

Anderson Torres: Herdamos uma situação bastante delicada. As instituições tinham um ruído muito grande entre elas. Não diria uma guerra, mas diria que havia um ruído muito grande. A gente tem feito isso [trabalhar pela integração] ao longo do ano. Os comandos entenderam isso. O comandante da PM, o diretor da Polícia Civil, o comandante do Corpo de Bombeiros, todos entenderam. A gente uniu forças e a gente evoluiu muito nessa questão da integração entre as forças.

Secretário de Segurança do DF, Anderson Gustavo Torres, cotado para substituir o atual diretor da Polícia Federal (PF) — Foto: Lúcio Bernardo Jr / Agência Brasília

Secretário de Segurança do DF, Anderson Gustavo Torres, cotado para substituir o atual diretor da Polícia Federal (PF) — Foto: Lúcio Bernardo Jr / Agência Brasília

G1: Quais a metas da Secretaria de Segurança para 2020?

Anderson Torres: Em 2020 vamos continuar trabalhando firme. Eu acho que a gente precisa intensificar, continuar com as investigações. A gente atingiu um nível muito bom. A Polícia Civil com três, duas operações voltadas ao combate específico a criminalidade organizada por semana.

A Polícia Militar também está muito empenhada, ajudando muito, com muitas prisões. Isso nos enche de alegria, a gente vê o resultado acontecendo.

Eu vejo 2020 como um ano de muitos desafios porque baixar os números que diante de uma média nacional, já são baixos, não é fácil. Não vai ser fácil o ano de 2020. Mas nós estamos preparados para o desafio. Estamos revigorando o efetivo, trazendo novos policiais. Buscando o aumento salarial, quer dizer, dando as condições de trabalho para que as forças de segurança continuem atuando cada vez melhor.

Fonte: G1/DF

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