Pater Noster

Por: Peniel Pacheco

A data comemorativa do Dia dos Pais é uma excelente oportunidade para refletirmos sobre a oração mais bela e mais repetida ao longo da história da humanidade – O Pai Nosso.

Orações, súplicas, preces, rezas, rogos, invocações, intercessões ou clamores estão sempre presentes no cotidiano das pessoas – especialmente daquelas que professam algum tipo de fé religiosa ou, pelo menos, se esmeram por aprimorar a própria espiritualidade. Isso vem demonstrar que a alma humana possui uma tendência natural para estabelecer alguma forma de comunhão com o sobrenatural.

As principais ocasiões em que nos inclinamos em busca do socorro divino dizem respeito aos nossos momentos de aflição, angústia, desespero ou solidão, especialmente quando identificamos o surgimento de lacunas que precisam ser urgentemente preenchidas visando à estabilização do nosso equilíbrio emocional. Mas é evidente que não pode se limitar a isso.

A introspecção da oração

A oração introspectiva – aquela que nos move em busca da paz interior – revela um caráter bastante individualista e, por vezes, pode esconder alguma forma de chantagem emocional, ou seja, quando o suplicante exige que a vontade divina se curve à sua vontade de maneira subalterna ou serviçal sob a ameaça de ficar embirrado com Deus.

O sentido introspectivo da oração nos conduz ao autoexame, à autoavaliação a respeito das nossas reais motivações e das verdadeiras intenções com que nos posicionamos perante os nossos semelhantes. Não se trata, portanto, da externalização dos nossos caprichos e ambições sob o argumento de que o Pai tem obrigação de atender magicamente tudo o que seus filhos queridinhos lhe impõem.   

A oração do Pai Nosso é um libelo à soberania do Pai Celestial. Isso fica muito claro quando Cristo afirma peremptoriamente: “Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”. Isso quer dizer que o suplicante se transforma em típico agente autorizado para fazer com que a vontade divina – que é absoluta no céu – seja trazida para a terra por nosso intermédio.

Isso parece assustador? De forma alguma! Principalmente quando nos conscientizamos de que a vontade do Amoroso Pai é sempre boa, perfeita e agradável. Portanto, a sabedoria divina sabe perfeitamente o que, de fato, é o melhor para nós cabendo a Ele dever paterno de nos preservar de sofrermos as consequências das escolhas erradas. Logo, a grande lição a ser aprendida, neste aspecto, é que Deus é Pai, e não PAItrocinador ou paternalista.

A horizontalidade da oração

Tomando por base as primeiras palavras da oração já se pode perceber seu caráter coletivo: Pai Nosso… Isso significa que a ação divina é condicionada à predisposição do suplicante em manter uma atitude voltada para a unidade em busca do atendimento de necessidades comuns. A oração não é um ato isolado que independe das pessoas que nos rodeiam. Oramos em coro mesmo quando praticamos a oração silenciosa ou quando nos quedamos reclusos em algum ambiente fechado. Em momento algum, temos autorização para conduzirmos nossas preces como se fosse um acordo espúrio ou uma negociação secreta feita às escondidas para evitar que alguém descubra nossos sentimentos ou desejos mais íntimos voltados para o nosso próprio deleite.

A verdadeira oração se dá quando somos tomados por um sentimento de empatia que nos torna cumplices (no bom sentido) das necessidades e carências humanas onde quer que elas se manifestem: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje…” Existe um modelo mais solidário de fazer da oração um ato de amor a Deus e ao próximo do que este? A fome do meu irmão se torna a minha fome também. Tal sentimento é um pressuposto indispensável para a construção de um mundo edificado de acordo com o maravilhoso propósito divino que abrange a todos indistintamente. Ou seja, o “melhor para mim” deve andar de mãos dadas com o que for “melhor para todos”.

Isso quer dizer que Deus é pai, não um mero padrasto.

A verticalidade da oração

Mesmo carregada de olhares voltados dentro de nós e para o nosso entorno, a oração não pode ser um pretexto para a prática da benemerência oportunista ou para a autopiedade aparente. Devemos orar uns pelos outros, mas não uns para os outros. Oração não deve ser confundida com discurso, muito menos com sacrifício ou autocomiseração. A piedade não é uma espécie de medalha de honra ao mérito que ostentamos no peito como sinal de superioridade em comparação com os demais. Isso é farisaísmo.

A verdadeira oração tem endereço certo: ela deve ser direcionada ao Pai que está no céu. A oração é, por assim dizer, um resgate da nossa vinculação com o divino. É o exercício da nossa transcendentalidade. É a confirmação do DNA espiritual que atesta nossa filiação com o Criador. Sabermos que Ele está pronto a nos ouvir é a prova viva de que temos parte com Ele. É o que nos torna filhas e filhos dEle no sentido mais profundo do termo e que, portanto, nos faz herdeiros de tudo o que pertence a Ele.

Quando oramos, revelamos nossa disposição em querer honrá-lo, e demonstramos nosso desejo de a Ele obedecer como Pai, de aprender dEle e com Ele e confiar na sua onipotência reconhecendo nossa limitação e total dependência a Ele.

Quando oramos, aprendemos a perdoar como Ele nos perdoa, aprendemos a confiar no seu poder de nos livrar das ciladas e das tentações e aprendemos, acima de tudo, que o mal que nos circunda e, infelizmente, tão de perto nos seduz, não é forte o suficiente para resistir à sua presença ao nosso lado e ao constante amor com que nos ampara e nos protege.

Aprendamos com Deus a sublime lição da verdadeira paternidade e tenhamos, hoje e sempre, felizes Dias dos Pais!   

 (Peniel Pacheco)

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