Nada é tão ruim que não possa melhorar

Por: Flávio Noronha

Há pouco tempo um amigo me trouxe uma reclamação muito interessante. Ele me disse que as visitas que faz às clínicas médicas para realizar consultas e exames em busca do tratamento e da cura de sua doença estavam agravando seu estado geral.

Isto porque todo o trabalho interior feito por ele para dispersar seus pensamentos ruins, que insistem em passear descontroladamente pela sua mente, são jogados por terra pelas próprias clínicas que lhe deveriam oferecer conforto emocional e, quicá, soluções para seu sofrimento. É que os monitores de TV nelas instalados, invariavelmente são sintonizados em canais exclusivos de notícias, os quais nada mais fazem o dia todo do que oferecer ao público o que lhe chama a atenção e garante a audiência: tragédias, sofrimentos, mortes e desilusão.

Como diz Augusto Cury, “cada doença pertence a um doente. Cada doente tem uma mente. Cada mente é um universo infinito”. E nessa infinitude mental tudo pode, de alguma forma, te ajudar, bem como tudo pode, também e com muito mais força, te desestabilizar, te causar apreensão e te impactar negativamente.

O ser humano é propenso a deixar-se influenciar por notícias ruins, permitindo inconscientemente que elas ecoem dentro de si durante horas ou até dias, e que se sobreponham a outras boas, as quais pouco valor recebem e quase passam despercebidas, o que as tornam insuficientes para levantar o moral do enfermo.

Diante desse contexto, lidando com pensamentos que vão de uma pequena apreensão até o sentimento de que a morte ronda sua vida, o cidadão que adentra em uma clínica não o faz com a visão de um céu azul de brigadeiro, mas com a impressão de nuvens negras pairando sobre si. Seria exagero? Pode ser. Mas, todos sabemos que, desacostumados com visitas a clínicas ou a hospitais, e que o brasileiro só faz exame médico depois que a doença se agravou, o lidar com os males do corpo e com suas repercussões sempre são motivo de desconfortantes reflexões, com as quais não estamos acostumados a lidar.

Contrariando os ensinamentos do Barão de Itararé, para quem é preciso “manter a cabeça fria, se quiser ideias frescas”, tais centros de atendimento médico, certos de que estão ajudando o seu público, insistem, inconsequentemente, em mostrar sua modernidade ao oferecerem seus monitores de TV ligados nos canais de notícias, os quais só conseguem “esquentar” nossas ideias.

O Barão de Itararé

Em uma assentada de 20 minutos, que é o tempo médio de espera por atendimento, o paciente ou consulente, afetado emocionalmente pelas incertezas da doença que lhe causa dor, pode assistir a imagens que irão de caixões acumulados esperando corpos ceifados pela covid; às de corpos de africanos boiando no mar pelo naufrágio de suas frágeis embarcações que deveriam ser libertadoras; passando pelas de desabamentos de prédios clandestinos; inundações decorrentes de temporais; continuando pelas de idosos dormindo nas filas do INSS, para comprovar que estão vivos; de pacientes alojadas em macas ou no chão de hospitais públicos, jogados à própria sorte; até às de outros que choram diante das câmeras mostrando que aguardavam há meses um atendimento público para o tratamento de seu câncer, mas que viram sua consulta desmarcada, sem nova data para outra.

Segundo Tales Luciano Duarte, “as grandes corporações de comunicação descobriram que nosso cérebro é programado para ficar mais atento a coisas que nos colocam em perigo do que nas que nos deixam felizes”. Pelo que me consta, isto não é novidade para ninguém e não deveria sê-lo para as Clínicas de Medicina (é claro que não são!). Então, essa desumanidade pode ser evitada com um simples recado chacoalhador, passado pelas palavras de Tinho Aires: “se as feridas do teu próximo não lhe causam dor, a sua doença é pior do que a dele”.

Encerrando esta reflexão com frases do Barão de Itararé, constatamos que “tudo seria fácil se não fossem as dificuldades” desse mundo, que “é redondo, mas está ficando muito chato”.

Que venham os desenhos animados, as receitas culinárias, os esportes etc. e que se aposentem, p’ra sempre, os sanguinários, mortais e desastrosos noticiários de cada dia. Pelo menos, onde não são bem-vindos, como nas salas de espera de clínicas médicas e hospitais. Enfim, saúde é o que interessa!

 

Por FLÁVIO NORONHA

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