Exército Brasileiro: instrumento de desenvolvimento nacional

Por: Flávio Noronha

Muitas décadas de trabalhos primorosos acostumaram-nos a enxergar o Exército Brasileiro muito além do que o de contributor para a garantia da soberania nacional; de garantidor dos poderes constitucionais, da lei e da ordem; e de provedor da segurança militar da pátria. Hoje, vemo-lo claramente como um dos grandes, senão o maior, artífices do crescimento e da integração do nosso povo.

 

Isto porque constitui missão da Força, também e especialmente em tempos de paz, a cooperação com o desenvolvimento nacional e com o bem-estar social, a qual é cumprida por meio de sua permanente prontidão para a construção do que lhe for demandado, o que pode incluir portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, pontes, açudes, barragens, etc., não importando se em lugares tidos por construtoras privadas como inóspitos, impenetráveis ou isolados.

 

Ou seja, para o Exército e pelo seu histórico “Departamento Real Corpo de Engenheiros” (Departamento de Engenharia e Construção), não há missão dada que não possa ser paga por seus profissionais de excelência, integrantes de onze batalhões de construção e por suas subunidades, incorporadas ou independentes.

 

Aos que erroneamente julgam tratarem-se, tais trabalhos, de desvirtuamento de suas funções essenciais, é importante esclarecer que a nossa Força Terrestre, em que pese ser uma instituição de estado e não de governo, desde o longínquo ano de 1880 é autorizada a realizar convênios com órgãos públicos federais, estaduais e municipais para a implementação de obras que impliquem o já mencionado desenvolvimento nacional, fazendo convergir seus esforços e dedicação decorrentes da aplicação dessa expertise ao mais puro espírito militar, de forma que tudo redunde no constante adestramento de seus soldados – desde os não graduados até os generais – na busca da elevação do seu nível operacional, o que a mantém apta para atender prontamente a eventuais necessidades de guerra, apesar de não participarmos de uma desde 1945.

 

Isto vai ao encontro do que ensinou, quase quinhentos anos antes de Cristo, o general, estrategista e filósofo militar chinês, admirado especialmente pelo seu tratado militar denominado “A Arte da Guerra”, Sun Tzu: “… na paz, devemos nos preparar para a guerra. E na guerra, prepararmo-nos para a paz, eis que “o verdadeiro objetivo da guerra é a paz”.

 

De 1955 até hoje, onze Batalhões de Engenharia de Construção foram criados (nove com denominação de BEC e dois chamados de Ferroviários), os quais contam com a média de 650 homens cada e são responsáveis por milhares de quilômetros de rodovias e ferrovias já construídos e em andamento, além de outros tantos de obras públicas que significaram melhoria na qualidade de vida do brasileiro, tendo, inclusive, participado ativamente da obra de transposição do Rio São Francisco, cuja importância e grandiosidade para a região nordeste é histórica.

 

Nove deles estão situados nas regiões Norte e Nordeste, nas cidades de Caicó-RN (Batalhão Seridó), Teresina-PI (Batalhão Heróis do Jenipapo), Picos-PI (Batalhão Visconde da Parnaíba), Barreiras-BA (Batalhão General Argolo), Porto Velho-RO (Batalhão Cel Carlos Aloysio  Weber), Boa Vista-RR (Batalhão Simón Bolívar), Rio Branco-AC (Batalhão Barão do Rio Branco), Santarém-PR (Batalhão Rondon), Cuiábá-MT (Batalhão General Couto de Magalhães), e outros dois nas Regiões Sudeste e Sul, sendo um em Araguari-MG (Batalhão Mauá) e outro em Lages-SC (Batalhão Benjamin Constant).

 

Há pelo menos quatro grandes diferenciais que destacam os serviços prestados pelo Exército em relação aos da iniciativa privada, quando se trata de obras de engenharia: os custos são entre 30% e 40% menores, haja vista a inexistência de relação de emprego celetista entre o Estado e os militares que os executam, o que implica a não incidência dos pesadíssimos encargos trabalhistas inerentes aos contratos de trabalho normais; a ausência de corrupção ou malversação de recursos públicos, o que garante o exato cumprimento entre o que é projetado e o resultado final das obras; a excelente qualidade das construções, com cumprimento dos prazos estabelecidos, haja vista a utilização de materiais adequados, de qualidade apropriada a cada tipo de missão, e a fiscalização permanente dos projetos físico-financeiros, mantida sob a égide da subordinação hierárquica, com prestação de contas continuada; e a desinfluência de obstáculos de qualquer natureza, como climáticos, geográficos ou de conturbação, que impeçam a assunção, o ir e o fazer, dada a característica da mobilidade, peculiar da Arma de Engenharia. Ou seja, ela vai onde o trabalho a chama.

De tudo isto, basta a simples inocorrência da corrupção – mazela que assola há 521 anos o nosso País – para que as realizações alcem aos picos de qualidade (preço, material, mão de obra, relação de subordinação, responsabilidade por boa execução, espírito público), não nos esquecendo, é claro, que, além dessa alavancagem na infraestrutura nacional, nosso Exército mantém-se pronto para “o que der e vier”, militarmente falando.

 

A preocupação com o meio ambiente, com a educação ambiental e com a sustentabilidade das obras são fatores preponderantes para a desincumbência das tarefas assumidas, havendo normas para utilização do campo desde o ano de 1920 (antes, portanto, da recente dominância das preocupações ambientais mundo afora), havendo, inclusive, internamente, um sistema de certificação ambiental baseado em verificações anuais, denominado de Selo Verde – algo similar às certificações ISO da iniciativa privada – deflagrador, dependendo dos resultados das averiguações, de visitas de ajustes nos quartéis, visando à manutenção da excelência nesse quesito.

 

O Brasil é, senão o único, um dos raríssimos países do mundo em que o Exército trabalha diretamente com obras de caráter permanente, pelo engrandecimento social e melhoria de vida de seu povo, sendo que os demais constroem em seus próprios campos de instrução e, logo após os treinamentos a que se destinam as obras, destroem-nas, vivenciando ciclos de construção e destruição, sem que produzam frutos definitivos para os seus nacionais.

 

Muitos privilegiados brasileiros – como eu, felizmente – tiveram a honra de participar de um Batalhão de Construção. No meu caso, servi, há 35 anos, como soldado no emblemático e histórico Batalhão Mauá, 2º. Batalhão Ferroviário (antigo 11º. BEC), onde pude vivenciar experiências, as quais, já para aquela época, mostravam-se-me como diferencial muito radical em relação à vida como civil.

 

Lá, como repetição do que se vê em qualquer outro quartel brasileiro, sem qualquer exceção, aprende-se e, mais, compreende-se a importância do respeito hierárquico; desenvolve-se acentuado espírito público e patriótico; enxergam-se vividamente exemplos de trabalho e honradez nos superiores hierárquicos, vistos e havidos como paradigmas de boa conduta; e, por fim, de lá traz-se como legado lições que servem para toda uma vida, como as seguintes que restaram gravadas definitivamente em minha mente: “tudo que deve ser feito, merece ser bem feito. O trabalho honrado tudo vence”.

 

No meu caso, posso testemunhar o quanto eu me orgulhava de desfilar com a tropa ostentando a bandeira da Arma de Engenharia, com a estampa do “Castelo Lendário da Arma Azul-Turquesa” – escudo de luta; brasão da grandeza e da glória sem fim; forjador da defesa e esteio do Brasil – honrando o engenheiro-patrono João Carlos de Villagran Cabrita.

 

Como seria importante que os nossos jovens vivenciassem experiências como as aqui relatadas, haja vista, infelizmente, estes terem sido mantidos tão distanciados de sentimentos como o de  patriotismo, de civilidade e o de espírito público nas últimas décadas, em que pese o fato de que, aos poucos, o Brasil esteja experimentando, de forma ainda trôpega, o resgate e o reacendimento destas chamas cívicas.

 

Para finalizar, segue um “retrato”, por meio de texto parafraseado sobre os lemas dos onze Batalhões de Engenharia de Construção do Brasil, o qual tem o condão de apresentar a Você, leitor, o que são e o que significam para a Força Terrestre e, muito especialmente, para o desenvolvimento do nosso querido Brasil. Ei-lo:

 

Com “braço forte e mão amiga” “o Exército constrói”. Nós “Combatemos construindo”. “Nós fazemos” “a mais bela batalha do mundo”. Por experiências próprias, sabemos que “o trabalho honrado tudo vence” e que “quanto maior o desafio e mais difícil a missão, melhor.” Como “tudo que deve ser feito, merece ser bem feito”, nossas forças são conjugadas, “ao braço firme”, cientes de que “o suor poupa o sangue” e de que “a força da nossa união é a união das nossas forças”. Por isso, bradamos com o máximo de nossos pulmões: “p’ra frente lutar!”. “Avante remar!”. “Brasil acima de tudo!”

 

Por FLÁVIO NORONHA

 

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