Letras que salvam

Nunca, antes, três letrinhas foram tão percebidas e tão necessárias para salvar vidas quanto agora. Refiro-me ao EPI – Equipamento de Proteção Individual.

Por causa da pandemia, profissionais de saúde, trabalhadores dos serviços funerários, comerciários, repórteres, militares, entre tantas outras categorias, escancararam diante do mundo o valor da segurança e da saúde dos trabalhadores quando expostos aos diversos tipos de risco para a saúde humana.

Isto ficou bem evidenciado por meio de imagens veiculadas nos meios de comunicação que mostravam profissionais em plena atividade, correndo de um lado para outro, com seus corpos devidamente paramentados com os EPIs, demostrando, de forma inequívoca, a importância de se protegerem e de resguardarem as pessoas por eles assistidas.

Isso vem demonstrar que o momento é mais do que oportuno para realçarmos o mérito da luta de todos em prol da valorização da vida como pressuposto indispensável para o sucesso de qualquer atividade humana, incluindo aquelas ligadas à área econômica.

Cabe salientar que, se o investimento financeiro é mola propulsora da atividade econômica, a segurança e a qualidade de vida são, por sua vez, indispensáveis ao desenvolvimento profissional e humano. Presume-se, em última análise, que são pessoas que fazem a máquina econômica girar – tanto no sentido da produção, quanto do consumo.

Fazendo uma analogia bem simples, podemos comparar esses dois aspectos da produtividade com as duas pernas: a cada passo dado visando ao incremento da atividade industrial ou mercantil, corresponde, necessariamente, à adoção de novos passos em busca da profissionalização com qualidade de vida para os colaboradores das organizações.

Ignorar tais premissas é o mesmo que imaginar uma longa caminhada usando tão somente uma das pernas. Com certeza não será possível ir muito longe.

Não se pode, portanto, dissociar totalmente a saúde econômica da saúde física e mental dos seres humanos que colaboram diretamente para o sucesso de tais atividades. Enfatizar uma em detrimento da outra é endossar o falso dilema de que uma perna é mais importante do que a outra, ou que um setor pode ser bem sucedido a despeito do fracasso do outro.

De acordo com a Constituição Federal – e com base no arcabouço jurídico dela decorrente – cabe às autoridades constituídas o importante papel de coordenar e regular adequadamente os processos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços, com o propósito de garantir a ambas as partes o merecido cuidado e atenção.


Qualquer descuido pode ser fatal e, naturalmente, ensejará ações e reações mais do que compreensíveis no sentido de responsabilizar a quem prevaricar, ao se omitir diante do grave quadro que assola, não apenas o país, mas o mundo.

É necessário que a humanidade tenha a real dimensão do tamanho do estrago que um simples vírus pode causar, pois o reconhecimento da própria fragilidade é o passo inicial para a conscientização da importância da adoção de medidas preventivas, mesmo que isso implique suportar os transtornos momentâneos e imponha algum tipo de sacrifício pessoal ou coletivo.

A união de pensamentos e propósitos em torno de premissas técnicas e cientificamente comprovadas é o único caminho para vencermos esse enorme desafio de forma digna e eficiente, com ênfase maior na salvação de vidas humanas.

 
Afinal, mais doloroso do que as eventuais perdas de produtividade ocorridas no âmbito das letrinhas CNPJ é o descaso e a desconsideração para com os titulares das, também, imprescindíveis letras CPF. Isso porque, além de carregarem nos ombros o peso do trabalho visando ao próprio sustento e ao da família, em caso de ausência, deixarão lacunas abertas para sempre nas mentes e corações de seus entes queridos.

Não podemos esquecer as sábias palavras pronunciadas pelo Mestre dos mestres momentos depois da multiplicação dos pães e peixes com os quais alimentou uma grande multidão: “Porque, que aproveita ao homem granjear o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?” (Lucas 9.25)

Vale a máxima amplamente difundida: “É melhor prevenir do que remediar.”
Ou seja, de nada vale criar EPIs para a economia, se faltarem os EPIs da dignidade e da cidadania. O Brasil precisa de ambos.

P.S.: Aproveito para render minhas justas homenagens aos profissionais da área de Segurança e Saúde do Trabalhador, especialmente àqueles técnicos e especialistas com os quais convivi durante minha atuação como Chefe Regional da FUNDACENTRO.

(Peniel Pacheco)

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